Raro ataque suicida em Islamabad deixa um agente de polícia morto

Taleban do Paquistão assumiu a autoria do atentado desta sexta-feira, o primeiro a atingir a capital paquistanesa em muito anos

Islamabad, capital do Paquistão, foi alvo de um raro ataque extremista nesta sexta-feira (23), algo que não se via por lá há alguns anos. Um carro-bomba explodiu e matou um agente de polícia, deixando ainda outras seis pessoas feridas, segundo informações do site The Defense Post.

O Taleban do Paquistão, nome popularmente atribuído ao Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), assumiu a autoria do ataque e disse que ele foi uma retaliação pela morte recente de um de seus combatentes em operação das forças de segurança estatais.

Sohail Zafar Chattha, um veterano da polícia local, disse que um táxi com um homem e uma mulher dentro chamou a atenção das autoridades e começou a ser perseguido. “Eles foram parados, e o homem de cabelos compridos foi convidado a sair”, disse o policial. “Ele saiu, mas rapidamente voltou para dentro e apertou um botão que explodiu o carro”.

Explosão de carro-bomba em Islamabad, no Paquistão (Foto: twitter.com/AmnahJPlus/reprodução)

Segundo Chattha, não se sabe se tanto o homem quanto a mulher morreram na explosão. Entre as seis pessoas que ficaram feridas estão outros seis policiais.

O ataque ocorre em meio a uma onda de violência por parte do TTP que teve início após o fim do cessar-fogo estabelecido com o governo em junho. Em novembro, os rebeldes se retiraram do acordo e ordenaram a seus seguidores que passassem a realizar novos ataques contra as forças do governo.

Na segunda-feira (20), um grupo de talibãs presos em uma delegacia de polícia conseguiu dominar os policiais que os detinham e os manteve como reféns por três dias. O incidente ocorreu em Bannu, distrito da província de Khyber Pakhtunkhwa, perto da fronteira afegã.

Em meio às negociações para libertar os reféns, o ministro da Defesa do país, Khawaja Muhammad Asif, afirmou que é necessário iniciar uma nova megaoperação contra o Taleban do Paquistão, que tem concentrado seus ataques nas regiões de fronteira com o Afeganistão do noroeste paquistanês.

“O terrorismo está crescendo novamente”, disse Asif. “Há um efeito de transbordamento da situação no Afeganistão e isso está afetando o Paquistão. Temos que lançar esta operação”.

Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveita sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para conduzir negociações que incluem ao TTP, entra elas dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, e agora foi mais uma vez rompido.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

Tags: