Refugiados rohingyas são sequestrados e mortos dentro da própria comunidade, diz relatório

Organização cita indícios de crimes de guerra em campos de Bangladesh e pede que ações de grupos armados sejam investigadas

Militantes rohingyas estão envolvidos em ações violentas contra refugiados da própria etnia nos campos de Bangladesh, segundo um relatório da organização Fortify Rights publicado na terça-feira (18). O documento aponta que grupos como o Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA) e a Organização de Solidariedade Rohingya (RSO) praticam assassinatos, sequestros, tortura e intimidações sistemáticas, atos que podem configurar crimes de guerra.

A Fortify Rights identificou “motivos razoáveis” para considerar que os crimes cometidos nos campos de refugiados em Bangladesh têm ligação direta com o conflito armado em Mianmar, que opõe o governo militar a grupos étnicos rebeldes que tentam derrubar o regime.

A organização pede que o governo de Bangladesh, o Tribunal Penal Internacional (TPI) e outros órgãos investiguem as ações desses grupos e processem os responsáveis. Quando a violência contra os rohingya em Mianmar atingiu seu pior momento histórico, em 2017, os EUA iniciaram um processo, que ganhou apoio generalizado, para classificar a perseguição como genocídio.

Deslocados rohingyas no estado de Rakhine, em Mianmar (Foto: Foreign and Commonwealth Office/Flickr)

“Grupos armados rohingya estão causando estragos em Bangladesh e Mianmar com quase total impunidade”,  disse John Quinley, diretor da Fortify Rights.  “Crimes de guerra são geralmente cometidos dentro do teatro imediato do conflito armado, mas, neste caso, crimes específicos em Bangladesh estão diretamente conectados à guerra em Mianmar e constituem crimes de guerra.”

O relatório, baseado em entrevistas com 116 pessoas, documenta como a violência nos campos de refugiados aumentou desde 2021, com o número de assassinatos dobrando a cada ano. Entre os casos destacados está o ataque de militantes a uma escola religiosa em 2021, que deixou seis mortos e dezenas de feridos, além de execuções e mutilações de refugiados acusados de colaborar com autoridades ou organizações humanitárias.

A crise nos campos de refugiados se agravou após cortes no financiamento dos EUA para programas de apoio aos rohingyas. A redução dos recursos teria ampliado o espaço de atuação dos grupos armados, que agora recrutam e forçam refugiados a lutar na guerra em Mianmar.

Segundo o relatório, combatentes sequestram e transferem à força refugiados para integrar as tropas da junta militar birmanesa. Em resposta, o líder interino de Bangladesh, Muhammad Yunus, afirmou que há “muita violência, tráfico de drogas e atividades paramilitares dentro dos campos”.

A Fortify Rights alega que violência mortal aumentou significativamente desde o assassinato de Mohib Ullah , um proeminente líder comunitário rohingya e defensor dos direitos humanos, em setembro de 2021. E diz cobra o governo interino de Bangladesh para que coopere “com mecanismos de justiça internacional para investigar crimes e levar potenciais criminosos de guerra à justiça.”

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