Beijing impõe restrições e limita a comunicação dos tibetanos com o mundo exterior

Autoridades chinesas intensificam vigilância e interrogatórios de tibetanos em Lhasa. Monitoramento opressivo persiste desde março

Autoridades chinesas no Tibete aumentaram a vigilância e continuam a interrogar os tibetanos na capital regional, Lhasa, com o objetivo de impedir a comunicação com pessoas de fora da região. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

Beijing intensificou o monitoramento e os interrogatórios de tibetanos residentes em Lhasa para determinar se eles tiveram contato com indivíduos que vivem fora do Tibete, adotando medidas de vigilância mais rigorosas para evitar essa comunicação. Agora, as autoridades do governo chinês estão direcionando interrogatórios específicos aos cidadãos locais, alertando-os para interromper qualquer forma de contato externo.

No mês de março, a polícia intensificou a vigilância devido a duas celebrações emblemáticas. A primeira foi o 15º aniversário de um motim ocorrido em 2008, quando protestos em Lhasa resultaram em confrontos violentos entre tibetanos e autoridades chinesas. Esse evento desencadeou uma resposta repressiva por parte do governo chinês.

Militares chineses com câmeras no telhado de um prédio em Lhasa (Foto: Erik Törne/Flickr)

Além disso, o mês também marcou o 64º aniversário da Revolta Nacional Tibetana, quando o povo tibetano se revoltou contra a ocupação militar chinesa. Essa revolta teve como consequência a fuga do Dalai Lama, líder espiritual do Tibete, para o exílio na Índia.

A segurança reforçada em março continuou até junho, com a polícia mantendo um monitoramento severo dos residentes em Lhasa. Foram realizadas buscas em seus telefones celulares e comunicações online, com o objetivo de descobrir se havia qualquer indício de comunicação com o exterior. Tais medidas restritivas visam controlar e restringir a liberdade de expressão e a comunicação dos tibetanos com o mundo exterior.

Um residente tibetano, ao falar com a reportagem da RFA, revelou a preocupação da polícia em relação aos contatos dos moradores de Lhasa com jornalistas e pesquisadores fora da região do Tibete.

Segundo essa fonte, os tibetanos receberam advertências para não se comunicarem com pessoas de fora, e aqueles que o fizeram foram convocados e interrogados pelas autoridades. Durante esses interrogatórios, seus telefones celulares foram confiscados, e eles passaram a ser constantemente vigiados.

A própria fonte foi uma das pessoas que estabeleceram contato com indivíduos fora do Tibete e, como resultado, foi chamada para interrogatório junto com alguns amigos.

“Eles nos alertaram para nunca nos comunicarmos com pessoas de fora, especialmente pesquisadores do Tibete e jornalistas”, relatou a fonte. “Também fiquei sabendo que muitos outros tibetanos que estabeleceram contato com pessoas fora do Tibete foram interrogados pelas autoridades chinesas.”

Controle

A ocupação chinesa em uma das regiões mais fechadas e politicamente sensíveis do país começou em 1950, quando as tropas do ELP (Exército de Libertação Popular) invadiram o Tibete e assumiram o controle em um episódio que se convencionou chamar de “libertação pacífica”. Na ocasião histórica, a artilharia esmagou a resistência tibetana, executou os guardas do líder espiritual e destruiu mosteiros de Lhasa.

Diante do cenário de destruição, o Dalai Lama fugiu para o exílio na Índia em 1959, após o fracasso na revolta contra o domínio chinês. Dali em diante, ocorreu uma violenta repressão aos movimentos de independência do Tibete. Os tibetanos acusam as autoridades chinesas de violar direitos humanos e tentar apagar sua identidade religiosa, linguística e cultural.

Exemplo disso é que Beijing classifica Tenzin Gyatso, o atual Dalai Lama em exílio na Índia, como um “separatista perigoso”. No lugar dele, foi reconhecido o atual Panchen Lama, instituído pelo PCC (Partido Comunista Chinês) como a mais alta figura religiosa do Tibete.

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