Taiwan denuncia campanha de desinformação da China para difamar a presidente da ilha

Segundo uma autoridade de segurança nacional, Beijing usa vídeos nas redes sociais para disseminar mentiras sobre Tsai Ing-wen

Com as eleições presidenciais de Taiwan marcadas para este sábado (13), a China vem intensificando a campanha de desinformação a fim de influenciar nos votos. Um alvo central de Beijing nesse processo é a presidente Tsai Ing-wen, defensora da independência da ilha e cujo vice, Lai Ching-te, é o favorito a vencer o pleito. As informações são do jornal Taipei Times.

Segundo uma fonte do setor de segurança nacional de Taiwan, a China tem utilizado as redes sociais para difundir notícias falsas a respeito de Tsai, expondo um suposto passado misterioso dela e de familiares. O objetivo seria semear a desconfiança entre os eleitores e influenciá-los a votar na oposição.

Lai é o candidato do Partido Democrático Progressista (DPP), que tem como principais concorrentes nas eleições o Kuomintang (KMT) e Partido Popular de Taiwan (TPP). Para Beijing, a manutenção do partido situacionista no poder é o pior dos cenários, por se tratar do mais radical defensor da autonomia da ilha.

A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen (Foto: Divulgação/Governo de Taiwan)

O DPP é quem mais veementemente expõe a ameaça representada por Beijing, que reivindica Taiwan como parte de seu território. Por sua vez, o KMT e o TPP deixaram transparecer a ideia de que abririam canais adicionais de comunicação com o governo chinês, embora defendam a autonomia e reforcem as capacidades defensivas taiwanesas contra uma eventual agressão chinesa.

A campanha contra a presidente, que deixará o cargo após oito anos e dois mandatos, é baseada em um documento de 300 páginas chamado “A História Secreta de Tsai Ing-wen”. As informações foram inseridas em vídeos narrados e apresentados com ajuda de inteligência artificial, que ganharam redes sociais como YouTube, Instagram e o X, antigo Twitter.

Segundo o informante, os vídeos apresentam características que remetem às tradicionais campanhas do Ministério de Segurança do Estado chinês. Quando excluídos pelas redes sociais, são rapidamente substituídos e continuam a se espalhar.

A avaliação foi corroborada por Austin Wang, professor associado de ciência política na Universidade de Nevada, nos EUA. Ele destacou que quase cem vídeos idênticos foram publicados no YouTube desde domingo (7), o que sugere se tratar se uma grande campanha.

“Não há dúvida de que esta atividade é coordenada e uma demonstração de força”, disse Wang. “Sua escala excedeu em muito qualquer coisa que rastreamos antes.”

O alcance dos vídeos, porém, parece reduzido, o que se explica pela baixa qualidade da produção e pelo fato de usar muitos termos em chinês que não são comuns aos taiwaneses. Isso, de acordo com a fonte estatal, tende a afastar o público mais atento.

Intimidação e desinformação

Paralelamente à campanha online, as autoridades chinesas também vêm intimidando os taiwaneses, reiterando o discurso de que a reunificação com Beijing é inevitável e que a escolha do futuro presidente definirá se a ilha irá à guerra ou não.

Além de reforçar a retórica da reunificação, a China mantém atividades na zona cinzenta ao redor de Taiwan, posicionando aeronaves militares, navios de guerra, rebocadores e balões próximos à ilha. Essas operações envolvem táticas militares e não militares ofensivas para intimidar ou coagir.

O Ministério da Defesa taiwanês relata que dezenas de aeronaves militares e navios de guerra foram identificados nas proximidades da ilha desde o início de 2024, e pelo menos seis balões chineses foram detectados cruzando a linha média do Estreito de Taiwan.

Tags: