Taiwan diz que China está fortalecendo bases militares nas proximidades da ilha

Alerta surge no mesmo dia em que Beijing realizou mais uma grande manobra militar perto do território taiwanês

O Ministério da Defesa de Taiwan afirmou na terça-feira (12) que a China vem reforçando suas bases militares nas proximidades da ilha, que Beijing considera um território rebelde cuja reivindicação de independência, na visão do governo chinês, justificaria uma invasão. As informações são da agência Associated Press (AP).

“Neste ano, o Partido Comunista Chinês (PCC) expandiu agressivamente seus armamentos e continuou a construir vários tipos de caças e drones”, disse o major-general Huang Wen-Chi, subchefe adjunto do Estado-Maior de Inteligência do Ministério. “A informação que recebemos é de que todas as bases militares importantes ao longo da costa vêm sendo continuamente atualizadas.”

Navios de guerra da marinha chinesa durante treinamento militar (Foto: eng.chinamil.com.cn)

Segundo Huang, três pistas de pouso e decolagem de jatos da força aérea chinesa na província de Fujian foram reformados recentemente, sendo que um deles fica a apenas 217 quilômetros do território taiwanês. “O período de julho a setembro deste ano foi o período de pico dos exercícios do Partido Comunista Chinês”, disse ele.

Paralelamente ao alerta, Taipé acusou Beijing de realizar mais uma grande manobra militar no entorno da ilha, com 22 jatos e 20 navios de guerra detectados nas proximidades de Taiwan também na terça. O porta-aviões Shandong esteve presente nas manobras, e 13 aeronaves teriam ultrapassado a linha média do Estreito de Taiwan, uma delimitação não oficial da fronteira entre os dois países.

A intensificação da atividade militar chinesa mantém viva a possibilidade de uma invasão em larga escala pelas forças armadas chinesas, de forma a forçar a reunificação dos dois territórios. No último domingo (10), o presidente Joe Biden, mais importante aliado econômico e militar da ilha autogovernada, foi questionado sobre a possibilidade de uma ação militar chinesa.

Em entrevista concedida durante visita ao Vietnã, o líder norte-americano minimizou o risco, sob o argumento de que a China luta atualmente para retomar o crescimento econômico e frear uma desaceleração que está ligada sobretudo à crise no setor imobiliário.

De acordo com Biden, o presidente chinês Xi Jinping “está muito ocupado neste momento”, tentando contornar o “desemprego esmagador entre os jovens” e outros problemas que atingem a segunda maior economia do mundo. Ele acrescentou: “Um dos principais princípios econômicos do seu plano não está funcionando neste momento.”

Então, questionado por um repórter se essa situação poderia levar a China a invadir Taiwan, o presidente disse que na verdade os indícios apontam na direção contrária, vez que o rival “provavelmente não tem a mesma capacidade que tinha antes.”

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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