Taiwan prende militar que invadiu a ilha e diz suspeitar de uma estratégia militar da China

Autoridades taiwanesas dizem que o sujeito pode ter sido enviado para testar a segurança com vistas a uma futura invasão

Autoridades de Taiwan confirmaram a prisão de um cidadão chinês que usou uma lancha para entrar ilegalmente em um porto da ilha. O homem foi identificado nesta terça-feira (11) como um ex-militar chinês, o que levou o governo local a levantar a suspeita de que a ação seja uma estratégia da China para testar a segurança taiwanesa.

Segundo o jornal South China Morning Post, o incidente ocorreu no domingo, mas somente agora a identidade do invasor foi revelada. O indivíduo foi identificado apenas pelo sobrenome Ruan, de 60 anos, que no passado serviu como capitão da Marinha da China.

Ele usou uma veloz lancha para cruzar o Estreito de Taiwan e só parou ao bater em uma balsa ancorada na Costa de Tamsui, a apenas dez minutos de barco de Taipé. A situação gerou questionamentos entre autoridades da ilha, dada a facilidade com que o homem conseguiu se aproximar da capital.

Navio patrulha da Guarda Costeira de Taiwan (Foto: WikiCommons)

“A segurança das fronteiras nacionais não pode permitir lapsos. Este incidente indica que a guarda costeira e os mecanismos de informação de segurança de primeira linha não foram geridos de forma eficaz”, disse o prefeito Hou You-yi.

Preso, Ruan teria alegado que fugiu da China porque vinha sendo perseguido pelo governo local após “fazer declarações impróprias”. A situação não chega a ser nova, mas o fato de o homem ter servido ao Exército de Libertação Popular (ELP) levou o governo taiwanês a questionar suas reais intenções.

De acordo com a agência Reuters, Taiwan trabalha com a hipótese de que ele tenha sido enviado por Beijing justamente para testar a segurança da ilha, com vistas a uma futura invasão para anexar a ilha à força.

“Olhando para os casos acumulados no passado, não podemos descartar que isto seja um teste”, disse Kuan Bi-ling, chefe do Conselho de Assuntos Oceânicos de Taiwan. Segundo ela, ao menos 18 casos semelhantes ocorreram no ano passado, a maioria de pessoas que chegam a ilhas controladas por Taiwan perto da costa chinesa.

O ministro da Defesa de Taiwan, Wellington Koo, também tratou o caso como suspeito. “Essas táticas de zona cinzenta sempre existiram”, disse ele. “Devemos sempre manter a nossa vigilância e não podemos descartar a possibilidade de tomar contramedidas.”

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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