Taiwan projeta aumentar orçamento de Defesa para 2023 em meio à tensão com a China

Às voltas com a crescente ameaça chinesa, ilha semiautônoma terá acréscimo de 13,9% em gastos militares, ultrapassando US$ 19 bilhões

Após provar da beligerância da China nos enormes exercícios militares em torno da ilha, além de aumentar a preocupação com uma hipotética invasão, Taiwan propôs nesta quinta-feira (25) US$ 19 bilhões em gastos com defesa para o próximo ano, um aumento significativo em relação a 2022. As informações são da agência Reuters.

A proposta da presidente Tsai Ing-wen estabelece um acréscimo de 13,9% no orçamento militar em comparação ao ano anterior. Um recorde na ilha semiautônoma de 586,3 bilhões de dólares taiwaneses (totalizando US$ 19,41 bilhões).

O montante inclui fundos para a aquisição de novos caças e outros equipamentos orçados em 108,3 bilhões de dólares taiwaneses. O anúncio mostra como Taiwan continua sob o impacto da visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, que esteve na ilha no começo deste mês e mexeu com os brios de Beijing.

Presidente de Taiwan Tsai Ing-wen revisa um batalhão do Corpo de Fuzileiros Navais em Kaohsiung, julho de 2020 (Foto: Wang Yu Ching/Office of the President-Flickr)

O planejamento recorde deve ser aprovado pelo parlamento. Desde 2017, o território taiwanês tem aumentando anualmente seus gastos com defesa.

Segundo o ministro do Departamento de Estatística, Chu Tzer-ming, o aumento deve ser direcionado principalmente para os custos operacionais.

“Sempre damos prioridade à segurança e à segurança nacional. É por isso que o orçamento para os custos operacionais aumentaram muito”, alegou Chu, que destacou custos como combustível e manutenção de aeronaves e navios enviados para fazer frente às atividades militares chinesas no entorno da ilha.

Em comunicado, o Ministério da Defesa taiwanês declarou que o orçamento tem total relação à “ameaça inimiga” em seu espaço aéreo e águas territoriais, sendo equivalente a 2,4% do PIB projetado de Taiwan para 2022.

“Diante da contínua expansão dos comunistas chineses de atividades militares direcionadas nos últimos anos e o uso normalizado de navios de guerra e aeronaves militares para invadir e perturbar os mares e o espaço aéreo circundante de Taiwan”, detalhou a nota. “Os militares aderem ao princípio de se preparar para a guerra sem buscar a guerra, defendendo a segurança nacional com força”.

Exercícios seguem no fim de semana

Jogos de guerra diminuíram ao redor da ilha, mas as operações chinesas continuam e preocupam. Neste fim de semana, na sexta-feira (26) e no sábado (27), estão programados exercícios de tiro real em um trecho da costa da província chinesa de Fujian, ao norte das pequenas ilhas Wuchiu controladas por Taiwan no Estreito de Taiwan, disseram autoridades de Fujian na quarta-feira (24). 

“A série de exercícios e treinamentos militares conduzidos pelo exército chinês perto da ilha de Taiwan da China são abertos, transparentes, profissionais e apropriados, e servem como alerta e contra-ataque aos provocadores e encrenqueiros”, disse durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira (25) o coronel Tan Kefei, porta-voz do Ministério da Defesa Nacional da China, segundo relatou a mídia estatal local.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos ainda mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeiro membro da Câmara a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serve como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.

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