Em meio à crescente tensão com os EUA, a Coreia do Norte tem feito inspeções em abrigos antiaéreos, fábricas e prédios empresariais para avaliar as condições de uso em hipótese de guerra. Nesse cenário, casos de corrupção estariam levando à aprovação inclusive de bunkers inapropriados, segundo a rede Radio Free Asia.
As verificações consideram principalmente aspectos como a capacidade do abrigo, a iluminação interior, a durabilidade e a funcionalidade dos alto-falantes.
Segundo um funcionário de uma empresa na província oriental de Hamgyong do Sul, que falou sob condição de anonimato, as eventuais perícias ordenadas por Kim Jong-un costumam ocorrer justamente em épocas mais turbulentas com Washington ou os vizinhos sul-coreanos.
“Esta fiscalização é um projeto para completar os preparativos de guerra, de forma que possam implementar a política de defesa civil do partido para proteger a pátria”, disse a fonte.
Ele acrescentou que o Departamento de Defesa Civil do Comitê Central emitiu uma diretriz para que “cada organização e empresa estejam bem equipadas para ataques aéreos, após exercícios militares conjuntos entre a Coreia do Sul e os EUA realizados recentemente”, disse ele.
O exercício em questão foi o Ulchi Freedom Shield (UFS), iniciado no dia 1º de setembro com o objetivo de trabalhar as defesas contra a ameaça nuclear que vem de Pyongyang. Foram dez dias de exercícios descritos como “defensivos”, com participação de dezenas de milhares de soldados e uso de tanques, navios de guerra e aeronaves.
Mas as tensões cresceram de fato no último dia 8, quando Jong-un declarou durante a Assembleia Popular Suprema que seu país não abriria mão do armamento nuclear. No mesmo dia, a convenção aprovou uma lei que estabelece situações em que o líder supremo dos norte-coreanos teria poderes para ordenar um “ataque nuclear preventivo”.
Quanto à capacidade de defesa contra ataques aéreos, segundo a fonte, a maioria das fábricas e empresas dispõe desse tipo de proteção. “Mas nem todos os funcionários podem evacuar, e os abrigos não são tão seguros”, disse.
Mesmo com flagrante insegurança, subornos estariam convencendo os inspetores do governo a fechar os olhos para as deficiências. Uma fábrica no condado de Unhung, na província de Ryanggang, no norte, passou na inspeção, apesar de suas más condições, revelou outra fonte.
“Eles chamam de abrigo, mas requisitos necessários não foram cumpridos”, disse o informante. “Existem dois abrigos antiaéreos em nossa fábrica. Eles são tão pequenos que só podem proteger metade dos nossos 120 trabalhadores”. O teto do abrigo antiaéreo desabou e a porta de entrada caiu, acrescentou.
A fonte ainda disse que agentes da defesa civil atestaram que o abrigo não reúne os dispositivos de segurança necessários, mas acabam dando o aval após prática de subornos dos funcionários. E o fazem em troca de muito pouco.
“Eles aceitam refeições ou maços de cigarros para cobrir quaisquer deficiências se a condição do abrigo antiaéreo não for grave. Me faz rir saber que eles completaram os preparativos para a guerra depois de fazer um abrigo que realmente é apenas um pequeno espaço de um túmulo”, disse a fonte.