Uigur que conduziu a tocha olímpica em Beijing 2008 cumpre pena de 14 anos de prisão

Adil Abdurehim foi preso por assistir a vídeos que o governo da China considera contrarrevolucionários, segundo um policial

Adil Abdurehim, um cidadão chinês da etnia uigur que conduziu a tocha olímpica dos Jogos Beijing 2008, está preso há cinco anos na China, como parte de uma sentença de 14 anos de reclusão imposta pela Justiça local. Ele foi julgado e condenado por ter assistido a vídeos considerados contrarrevolucionários. As informações são da rede Radio Free Asia.

A história de Abdurehim veio à tona depois que a China escolheu outro uigur, Dilnigar Ilhamjan, para participar do revezamento da tocha nos Jogos de Inverno Beijing 2022, que começaram no último dia 4 de fevereiro. A prisão dele foi confirmada por um agente do serviço de segurança de Urumqi.

A relação de Abdurehim com o governo chinês sempre foi de proximidade, o que contribuiu para a escolha como integrante do revezamento da tocha. Ele é membro do Partido Comunista Chinês (PCC) e ex-funcionário do Departamento de Cultura e Esportes do distrito de Saybagh, na província de Xinjiang, onde vive a minoria uigur.

Uigur que conduziu a tocha olímpica em Beijing 2008 cumpre pena de 14 anos de prisão
Revezamento da tocha olímpica em Beijing 2008 (Foto: Wikimedia Commons)

Segundo Abduweli Ayup, ativista e linguista uigure que vive na Noruega e documenta o desaparecimento e a prisão de uigures, Abdurehim frequentou escolas chinesas em Xinjiang e estudou na Rússia na década de 1990. Mais tarde, começou a trabalhar no distrito em Urumqi, a capital regional. O pai dele também era funcionário público na prefeitura de Kashgar.

O ativista conta que soube da prisão em 2019, dois anos após o governo intensificar a repressão aos uigures. “Ouvi em 2019 que Adil foi preso e confirmei em 2020 com uma fonte confiável”, disse ele. “Em 2008, quando Beijing sediou os Jogos Olímpicos, ele era um portador da tocha. Nós o vimos na TV”.

O nome de Abdurehim consta da “Lista de Xangai”, vazada do governo chinês com os nomes de cerca de dez mil “potenciais terroristas”, a maioria dos quais são uigures étnicos, incluindo centenas de menores e idosos. Analistas acreditam que a lista foi compilada até 2018.

Dilxat Raxit, porta-voz do Congresso Mundial Uigur, sediado na Alemanha, disse que ao menos 20 uigures foram detidos ou multados por postarem comentários críticos sobre a presença de Dilnigar no revezamento da tocha de Beijing 2022. “A China organizou os uigures locais para participarem dos eventos de celebração dos Jogos Olímpicos de Inverno e tentou espalhar informações falsas e distorcidas para o exterior, para encobrir o genocídio“, disse Raxit.

Por que isso importa?

A comunidade uigur habita a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China. A província faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas.

Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014. O governo chinês admite a existência de tais campos, que abrigam mais de um milhão de pessoas, mas alega que eles servem para educação contraterrorismo.

O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.

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