Venda de petróleo russo à Coreia do Norte marca ‘colapso’ do sistema de sanções da ONU, diz analista

Navios norte-coreanos têm sido abastecidos de forma descarada, desrespeitando punições impostas pelas Nações Unidas

A venda de petróleo à Coreia do Norte é controlada desde 2017, quando a ONU (Organização das Nações Unidas) impôs sanções ao país asiático em resposta a seu programa de armas nucleares. Desde o início de março, a Rússia desrespeita descaradamente as punições, com carregamentos frequentes do combustível partindo de portos russos em navios norte-coreanos. As informações são do jornal Financial Times.

A forma como as entregas têm sido feitas, sem a aparente preocupação de Moscou em escondê-las, chama a atenção. “Estas entregas de petróleo constituem um ataque frontal ao regime de sanções, que está agora à beira do colapso”, disse Hugh Griffiths, antigo coordenador do painel da ONU de monitoramento das sanções à Coreia do Norte.

As negociações foram reveladas pelo jornal em parceria com o think tank britânico Royal United Services Institute (RUSI), com base em imagens de satélite que constataram a presença de cinco petroleiros norte-coreanos em portos no extremo leste russo a partir do dia 7 de março.

Plataforma de petróleo no Mar Negro (Foto: Wikimedia Commons)

“Os navios que vimos nos terminais russos são alguns dos navios de maior capacidade da frota da Coreia do Norte, e os navios navegam continuamente para dentro e para fora do porto”, disse Joseph Byrne, pesquisador do RUSI, acrescentando que algumas das embarcações avistadas estão igualmente sob sanção.

Segundo Griffiths, a entrega de petróleo a Pyongyang sugere que Moscou usa o combustível para pagar as armas e munições que recebeu do aliado nos últimos meses, usadas na guerra da Ucrânia.

Embora a Coreia do Norte não esteja totalmente proibida de receber petróleo, a quantidade é controlada. Os analistas consultados pelos investigadores sugerem que os navios identificados nas imagens seriam capazes de transportar, em apenas algumas semanas, um quatro de toda a carga anual autorizada.

A constatação de que a relação comercial entre Moscou  Pyongyang tem se intensificado chega em momento crucial para a ONU, que debate a ampliação do mandato de seu painel de monitoramento de sanções à Coreia do Norte. E a Rússia dá sinais de que vetará a renovação.

“Embora haja um debate sobre a eficácia das sanções, o que estamos vendo agora é o que começaria a acontecer se as sanções fossem removidas”, disse Byrne. “Isso está dando à Coreia do Norte um impulso muito significativo.”

Go Myong-hyun, analista de um think tank afiliado ao governo da Coreia do Sul, disse que o petróleo é fundamental para estabilizar a economia norte-coreana, o que daria ao país verba extra para o país se armar.

Segundo Go, a Coreia do Norte depende hoje de um complexa e cara rede de intermediários e contrabandistas para se abastecer, e o comércio aberto com a Rússia mudaria esse cenário.

“Isso vai liberar recursos para as Forças Armadas da Coreia do Norte e para o seu programa de armas nucleares”, disse o analista.

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