Enquanto uma quarta onda de coronavírus avança na Europa, centenas de pessoas foram às ruas de Kiev nesta quarta-feira (24) para um manifesto contra as medidas sanitárias de proteção contra a Covid-19 e a campanha de vacinação. Figurando entre os países mais pobres do continente, a Ucrânia luta contra um surto de infecções da variante Delta, cepa de altíssimo contágio. As informações são da agência Macau Business.
A baixa procura pela imunização no país do leste europeu agravou a situação da pandemia. Mesmo com os repetidos chamados das autoridades de saúde convocando para a aplicação, a população se mostra relutante em tomar as doses de proteção. E parte dela inclusive não acredita na existência do mal, que já ultrapassou a marca de 5 milhões de mortes no mundo, segundo dados do Our World in Data.
No protesto desta semana na capital, pessoas ergueram cartazes com dizeres como “Pare a falsa pandemia”, “Diga não ao genocídio!” e “Diga não às mentiras”.
Entre os manifestantes estava o professor de ciências da computação Oleksiy Mykytenko, de 48 anos. Ouvido pela agência AFP, ele contou que foi suspenso do trabalho por se recusar a tomar a vacina. “Por que meus direitos estão sendo violados? Por que devo receber uma injeção de alguma substância?”, questiona.
Os ucranianos têm à disposição quatro tipos de imunizantes: Pfizer/BioNTech, Moderna, AstraZeneca e Coronavac.
O fracasso da campanha de vacinação é atribuído pelas autoridades ucranianas à Rússia, que estaria usando a internet para minar a confiança da população como parte de uma estratégia para desestabilizar o país.
Ruslan Demchenko, primeiro vice-secretário do Conselho de Segurança e Defesa nacional, declarou em um artigo publicado pela agência estatal de notícias Ukrinform que a culpa seria dos “serviços de inteligência russos”. Ele alega que campanhas de informações falsas em redes sociais financiadas pelo país vizinho defendem que as restrições impostas para conter o aumento nas infecções são “um ataque aos direitos humanos”, o que estaria influenciando os cidadãos ucranianos.
A Rússia não se manifestou sobre as acusações de Demchenko.
A Ucrânia, país com aproximadamente 40 milhões de habitantes, registrou 14.325 novos casos de Covid-19 e 595 mortes nesta quarta (24). Mesmo com a aceleração da vacinação nas últimas semanas após o governo impor restrições de passaporte sanitário para acesso em locais públicos, somente 26% da população está completamente imunizada.
A exigência dos comprovantes resultou em um mercado negro de documentos falsificados no país, esquema descoberto no mês passado. As carteirinhas são vendidas a preços que vão de US$ 100 a US$ 300. Os criminosos chegaram a desenvolver até uma versão falsa do aplicativo digital do governo. Um ex-parlamentar foi pego usando um documento falso.
Por que isso importa?
A baixa procura pela vacinação vem causando um surto de infecções em muitos países do leste europeu. O problema não é a escassez de imunizantes, como ocorre em diversas partes do mundo, e sim fatores culturalmente enraizados nos países, o que faz com que a aplicação do esquema vacinal torne-se uma questão política, e não sanitária.
Segundo Catherine Smallwood, gestora de incidentes Covid-19 da OMS (Organização Mundial de Saúde), a desconfiança da população e experiências anteriores com outros imunizantes são aspectos que têm ditado um ritmo lento na procura pelas doses.
“Estamos vendo uma baixa aceitação da vacina em toda uma faixa de países naquela parte da Europa”, disse ela, citando o leste europeu. “Questões históricas em torno das vacinas entram em jogo. Em alguns países, toda a questão da vacina é politizada”, disse.