Indústrias poluentes não devem ser salvas, defende Guterres

Para o secretário-geral, pandemia e mudanças climáticas pedem liderança "corajosa, visionária e colaborativa"

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, exortou os países a não investir recursos na recuperação de indústrias “ultrapassadas e poluentes”, e sim usar esses recursos para a criação de empregos verdes e crescimento sustentável em suas políticas econômicas pós-coronavírus.

A afirmação foi feita nesta terça (28) no Diálogo Petersberg sobre o clima, encontro organizado pela Alemanha e Reino Unido que reúne ministros de 30 países. No encontro, Guterres debateu medidas que devem orientar a recuperação dos países após a pandemia do novo coronavírus.

Guterres afirmou que, após a pandemia, o mundo tem “uma janela de oportunidade rara e curta” para se reconstruir, o que deve ser feito a partir de “uma liderança corajosa, visionária e colaborativa”.

“O mesmo tipo de liderança é necessário para lidar com a ameaça iminente de ruptura climática. O ano passado foi o segundo ano mais quente já registrado e parte da década mais quente da história. Atrasar as ações climáticas vai nos custar muito mais a cada ano em termos de vidas e meios de subsistência perdidos, negócios e economias prejudicadas”, afirmou.

No entanto, para ele, ainda falta vontade política para seguir esse caminho em várias partes do mundo. “Por isso continuo a defender por uma ambição mais significante por mitigação, adaptação e financiamento.”

Guterres critica “epidemia de desinformação” sobre Covid-19
O secretário-geral da ONU António Guterres (Foto: UN Photo)

Medidas sustentáveis

Com o mundo se preparando para recuperar a economia, há a opção de escolher um caminho mais sustentável e e inclusivo, lidando com as mudanças climáticas, protegendo o meio ambiente, revertendo a perda de biodiversidade e garantindo a segurança e a saúde da população a longo prazo, declarou o secretário.

Outra medida incentivada por Guterres foi a do uso dos impostos para facilitar a transição para uma economia verde. Já os subsídios devem ser dedicados a setores e projetos sustentáveis, com o fim do apoio a combustíveis fósseis.

De acordo com o secretário-geral da ONU, o sistema financeiro global deve levar em consideração os riscos e oportunidades relacionados ao clima. “Os investidores não podem continuar ignorando o preço que o planeta paga por um crescimento que não é sustentável”, afirmou durante o encontro.

Por último, o secretário-geral destacou a importância do trabalho conjunto da comunidade internacional. “O isolamento é uma armadilha. Nenhum país pode ter sucesso sozinho”, completou.

Compromisso

Guterres aproveitou o momento para pedir que os países preparem planos nacionais para atingir a meta de neutralidade de carbono até 2050. Até o momento, 121 países se comprometeram com a redução da emissão de poluentes.

“A chave para enfrentar a crise climática são os grandes emissores. O Acordo de Paris foi possível, em grande parte, graças ao envolvimento dos Estados Unidos e da China”, afirmou.

Para o secretário-geral da ONU, se não houver a contribuição dos grandes emissores de poluentes, os esforços dos outros países estarão condenados. Juntos, os países do G20, por exemplo, representam mais de 80% das emissões globais.

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