ONU: Pandemia pode levar mais de 10 milhões de meninas a casar cedo

Brasil é um dos cinco países com maior índice de casamentos precoces no mundo, diz relatório da Unicef

Este conteúdo foi publicado originalmente pela agência ONU News, da Organização das Nações Unidas

Mais 10 milhões de meninas correm o risco de entrar em um casamento precoce devido à pandemia. O risco é de se regredir após se terem evitado 25 milhões de casamentos infantis no mundo na última década, apontou o Unicef (Fundo da ONU para a Infância).  

Um novo estudo destaca que 650 milhões de meninas e mulheres já foram vítimas desta prática. O Brasil está entre os cinco países onde ocorreu quase metade dos casamentos precoces. Em seguida vem Bangladesh, Etiópia, Índia e Nigéria. 

Moçambique é a outra nação de língua portuguesa citada no estudo. O país promove ações em favor da aprendizagem das crianças, mesmo com escolas fechadas, e um retorno seguro na reabertura.

ONU: Pandemia pode levar mais de 10 milhões de meninas ao casamento precoce
Crianças refugiadas em escola do distrito de Behsud, província de Nandarhar, Afeganistão em abril de 2019 (Foto: Unicef/Marko Kokic)

Para a agência, tais medidas devem vir com a contratação de professores e distribuição de materiais. O estudo destaca que medidas como encerramento de escolas, limitações econômicas e morte dos pais por Covid-19 deixaram as meninas mais expostas ao risco de casar cedo.  

Antes da pandemia, 100 milhões de meninas já estavam em risco de casar precocemente na próxima década. Nos últimos 10 anos, a proporção de meninas casadas antes dos 18 anos caiu 15%, um aumento de uma em cada cinco em relação ao período anterior. 

Para a diretora executiva do Unicef, Henrietta Fore, a pandemia piorou uma situação que já era difícil para milhões de meninas. O fechamento de escolas e a falta de redes de apoio são fatores que, associados à pobreza, agravaram um problema de anos.

Violência  

A chefe do Unicef realça que não somente é possível como é um dever acabar com o casamento infantil. Com a prática, as meninas ficam mais expostas à violência doméstica e têm menor probabilidade de continuar na escola. O risco de gravidez precoce também é maior, levando à mortalidade materna.  

Entre as consequências estão separação das suas famílias, dos amigos e impedimento de participação ativa nas suas comunidades. Esta situação tem graves consequências para a saúde mental e bem-estar do grupo.  

Com as restrições à circulação e o distanciamento físico ficou difícil ter acesso aos cuidados de saúde que poderiam proteger do casamento precoce, da gravidez indesejada e da violência de gênero.  

ONU: Pandemia pode levar mais de 10 milhões de meninas ao casamento precoce
Crianças em favela de Dhaka, Bangladesh (Foto: Kibae Park/UN Photo)

O Unicef realça que o fechamento das escolas aumenta também a probabilidade de abandono escolar definitivo. O desemprego e o aumento da insegurança econômica podem levar famílias a dar as filhas em casamento para aliviar o encargo financeiro.  

A agência chama a atenção para a urgência de evitar a regressão para reverter os efeitos da pandemia e acabar com a prática até 2030, como preveem os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável).  

Para a chefe do Unicef, com a reabertura de escolas, leis e políticas eficazes serão necessárias para garantir o acesso a serviços de saúde e sociais, incluindo de saúde sexual e reprodutiva. 

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