A sociedade global não pode sair da crise do novo coronavírus sem implementar mudanças e endereçar as vulnerabilidades econômicas e sociais evidenciadas neste período. A avaliação é da vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, em entrevista ao portal ONU News.
Para a diplomata anglo-nigeriana, a pandemia é um “multiplicador de ameaças”, já que atinge sobretudo países e populações com pouco espaço para agir.
“Temos uma emergência de saúde, humanitária e de desenvolvimento. Todas elas expressam as desigualdades em nossas sociedades”, afirmou.
Já em abril, o FMI (Fundo Monetário Internacional) havia estimado que a crise, chamada pela instituição de “O Grande Lockdown“, derrubaria a economia global em níveis vistos apenas no final dos anos 1920.
Naquele momento, estimava-se recessão de 3% em todo o mundo, e de 6,1% nos países desenvolvidos. Em nações em desenvolvimento, a economista-chefe do FMI Gita Gopinath anunciava retração de apenas 1%.
O cenário-base dos cálculos do Fundo tinha como ponto de partida o pressuposto de que o pico da pandemia aconteceria, na maioria dos países, durante o segundo trimestre do ano – ou seja, de março a maio.
Agora, o Banco Mundial divulgou nesta terça (9) um aprofundamento da crise. A estimativa de recessão para 2020 é de 5,2% em todo o mundo, com queda de 7% nas economias avançadas e 2,5% nas emergentes.
Para Mohammed, a prioridade é garantir sustento digno para comunidades mais pobres durante a crise. Segundo a diplomata, garantir espaço fiscal e ampliar os auxílios é elemento fundamental para a recuperação econômica global.
Ainda em abril, a ONU recomendou um pacote de auxílio à economia de cerca de 10% do PIB mundial.
A situação latina
Hoje, o epicentro da pandemia do novo coronavírus está nas Américas. região superou a Europa em número de casos – 3,4 milhões contra 2,3 milhões – e em mortes, 189 mil contra 186 mil.
A América Latina, região historicamente carente de sistemas fortes de seguridade social e de saúde, puxa a escalada dos casos. Em nações mais pobres, caso das latinas, pode-se assistir a um aumento da pobreza.
“Existe um risco de muitos ficarem para trás nesse momento. Qualquer aprofundamento dessas divisões [econômicas e sociais] é um risco de lançar as pessoas na pobreza, de perder os ganhos que já fizemos e de enfraquecer os nossos sistemas”, afirmou a vice-secretária-geral.
Aqui, a crise também será aguda: a retração será de 7,2%, diz o relatório do Banco Mundial. No PIB brasileiro, a queda deste ano será de 8%.
Nesta segunda (8), a Opas (Organização Pan-americana da Saúde) alertou para um mês “crítico” em junho e que os países latinos tem registrado alta diária da ordem de 5% no número de casos.
Para Marcos Espinal, diretor da área de doenças transmissíveis do órgão, trata-se de uma “situação muito delicada”.
Revisões mais recentes dos números da crise apontam recessão na quase totalidade dos países. A pesquisa do Banco Mundial traz um dado alarmante: desde o início de sua série histórica, em 1870, não havia tantos países entrando em recessão simultaneamente.