Após a publicação de reportagens desfavoráveis ao presidente Vladimir Putin, a Rússia declarou o site de jornalismo investigativo The Insider e cinco jornalistas do veículo como “agentes estrangeiros” na última sexta-feira (23). As informações foram divulgadas pelo jornal britânico The Guardian.
A medida seria um aparente ato de vingança contra a mídia independente por ajudar a revelar o papel do Kremlin nos envenenamentos de Salisbury e tentativas de assassinato pelas agências de segurança.
O Insider trabalhou com o site investigativo Bellingcat e foi um dos vários novos veículos a publicar exposições embaraçosas para o governo russo. Entre elas, uma investigação sobre o que Alexei Navalny, um ativista anticorrupção considerado o maior crítico de Putin, diz ter sido uma tentativa de assassinato por envenenamento.
O mesmo método foi usado por dois agentes da inteligência acusados de matar o ex-espião Sergei Skripal em 2018, em Salisbury, na Inglaterra, fato que também foi apurado pelos jornalistas independentes.
A designação de “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. A Rússia nega que uma repressão esteja em andamento, embora sites que denunciam erros de Putin e escândalos ligados ao governo já tenham sido listados como “organizações indesejáveis” e até banidos.
“Como resultado da listagem do The Insider pelo Ministério da Justiça, temos o prazer de informar que nossa equipe editorial continuará a operar como sempre e a manter nossa política editorial. Continuaremos a fornecer aos nossos leitores informações públicas completas e não censuradas”, diz uma declaração publicada no site.
Prejuízos
O Insider é o 29º órgão de mídia da lista. Um deles, o VTimes, fechou no mês passado, dizendo que perdeu anunciantes e outros parceiros comerciais após a designação. Outros, como Meduza, evitaram o fechamento por meio de esforços de crowdfunding.
A designação de “agente estrangeiro” exige que os veículos rotulem todo o seu conteúdo e acaba por afastar potenciais parceiros e anunciantes. Organizações que não cumprem a lei podem ser forçadas a fechar.
Como parte da ação do governo visa a sufocar financeiramente o veículo jornalístico, eventuais doadores, através de qualquer esforço de crowdfunding (financiamento coletivo), também são passíveis de punição.