Polícia detém jornalista que investigou envenenamento de Alexei Navalny

Casa de Roman Dobrokhotov, passou por uma busca, com equipamentos retidos em função de um alegado caso de calúnia

O jornalista Roman Dobrokhotov, editor-chefe do site investigativo The Insider, foi detido na terça-feira (27), e a polícia realizou uma ação de busca no apartamento em que ele mora em Moscou. A Justiça alega que a ação está relacionada a um caso de calúnia, segundo a agência Reuters.

O advogado do jornalista diz não é suspeito no caso, e sim testemunha. A acusada seria uma jornalista holandesa. Ainda assim, os policiais confiscaram laptops, telefones, tablets e o passaporte de Dobrokhotov, que, de acordo com um colega, planejava deixar a Rússia na quarta-feira (28)

Na última sexta-feira (23), após a publicação de reportagens desfavoráveis ao presidente Vladimir Putin, a Rússia declarou o The Insider e cinco jornalistas do veículo como “agentes estrangeiros”. A medida seria um aparente ato de vingança contra a mídia independente por ajudar a revelar o papel do Kremlin nos envenenamentos de Salisbury e tentativas de assassinato pelas agências de segurança.

Roman Dobrokhotov, jornalista russo, protesta contra a repressão de Moscou em agosto de 2009 (Foto: Ilya Varlamov/Wikimedia Commons)

Insider trabalhou em parceria com o site investigativo holandês Bellingcat e foi um dos vários novos veículos a publicar exposições embaraçosas para o governo russo. Entre elas, uma investigação sobre o que Alexei Navalny, um ativista anticorrupção considerado o maior crítico de Putin, diz ter sido uma tentativa de assassinato por envenenamento.

O mesmo método foi usado por dois agentes da inteligência acusados de matar o ex-espião Sergei Skripal em 2018, em Salisbury, na Inglaterra, fato que também foi apurado pelos jornalistas independentes.

A designação de “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. A Rússia nega que uma repressão esteja em andamento, embora sites que denunciam erros de Putin e escândalos ligados ao governo já tenham sido listados como “organizações indesejáveis” e até banidos.

“Como resultado da listagem do The Insider pelo Ministério da Justiça, temos o prazer de informar que nossa equipe editorial continuará a operar como sempre e a manter nossa política editorial. Continuaremos a fornecer aos nossos leitores informações públicas completas e não censuradas”, diz uma declaração publicada no site.

Prejuízos

O Insider é o 29º órgão de mídia da lista. Um deles, o VTimes, fechou no mês passado, dizendo que perdeu anunciantes e outros parceiros comerciais após a designação. Outros, como Meduza, evitaram o fechamento por meio de esforços de crowdfunding.

A designação de “agente estrangeiro” exige que os veículos rotulem todo o seu conteúdo e acaba por afastar potenciais parceiros e anunciantes. Organizações que não cumprem a lei podem ser forçadas a fechar.

Como parte da ação do governo visa a sufocar financeiramente o veículo jornalístico, eventuais doadores, através de qualquer esforço de crowdfunding (financiamento coletivo), também são passíveis de punição.

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