TV dos EUA promete inserir contexto geopolítico na transmissão de Beijing 2022

Após pedido de um grupo de congressistas, NBCUniversal anunciou que dará espaço a protestos por direitos humanos durante a cobertura do evento esportivo

A rede de televisão norte-americana NBCUniversal anunciou que irá reconhecer o “contexto geopolítico” durante a cobertura dos Jogos Olímpicos de Inverno em Beijing, na China. O país asiático tem enfrentado críticas de diversas nações por questões de direitos humanos, inclusive boicote diplomático à competição que tem início em fevereiro. As informações são da Fox News.

A postura editorial se originou na semana passada, quando um grupo de parlamentares dos EUA, de maioria republicana, enviou uma carta ao alto escalão da emissora instando a direção a repercutir os protestos durante as transmissões, já que há a expectativa de que a China use o evento esportivo para fazer propaganda política.

Na quarta-feira (19), a presidente e produtora executiva da NBC Olympics Production, Molly Solomon, disse que a rede Peacock, serviço de streaming da NBCUniversal, irá propor uma “cobertura apropriada” do papel da China no mundo e dos abusos que ocorrem sob seu regime.

Jogos Olímpicos de Inverno Beijing 2022 começam oficialmente em 4 de fevereiro (Foto: COI/Flickr)

“Entendemos que existem algumas questões difíceis em relação à nação anfitriã, então nossa cobertura fornecerá uma perspectiva sobre o lugar da China no mundo e o contexto geopolítico em que esses Jogos estão sendo realizados. Mas os atletas continuam sendo a peça central de nossa cobertura”, antecipou.

A republicana Ann Wagner esteve à frente do documento endereçado à NBC. Ela comemorou o anúncio em sua conta no Twitter.

“Na semana passada, pedi à NBCUniversal que transmitisse todos os protestos de direitos humanos durante os Jogos Olímpicos de Inverno na China. Hoje eles anunciaram que cobrirão esses eventos críticos, uma grande vitória para os direitos humanos em todo o mundo”, tuitou a congressista.

Diz a carta em um trecho:

“Continuamos seriamente preocupados com o fato de a República Popular da China usar o evento como uma plataforma para disseminar propaganda e distrair seus flagrantes abusos de direitos humanos, incluindo seu genocídio em andamento contra os muçulmanos uigures (…) uma cobertura honesta e transparente ajudará a comunidade internacional a defender grupos perseguidos como uigures, tibetanos, residentes de Hong Kong, praticantes do Falun Gong, cristãos e defensores dos direitos humanos”, assinaram os legisladores.

O documento foi assinada por 28 republicanos e dois democratas na Câmara.

Os atletas norte-americanos foram orientados por seus próprios dirigentes a não tocarem em assuntos espinhosos, como os abusos contra os uigures reportados em Xinjiang, a luta por independência de Taiwan, a repressão em Hong Kong ou a questão do Tibete.

O boicote diplomático

Como forma de protestar contra os abusos de direitos humanos cometidos pelo governo da China, diversos governos aderiram ao boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno Beijing 2022. Assim, não enviarão representantes estatais ao evento, mas os atletas podem competir normalmente. A medida visa somente a ferir o orgulho do país-sede, algo particularmente relevante para Beijing. Saiba quem aderiu ao boicote.

NA EUROPA

Lituânia

Envolta em uma crise diplomática com a China após a abertura de uma embaixada de fato de Taiwan em seu território, a Lituânia foi o primeiro país do mundo a anunciar um boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno. O presidente Gitanas Nauseda confirmou que nem ele nem nenhum ministro do governo irá prestigiar os Jogos.

Bélgica

Conforme o primeiro-ministro belga Alexander De Croo afirmou aos parlamentares de seu país no dia 18 de dezembro, “o governo federal não enviará representação aos Jogos”.

Dinamarca

Copenhague afirmou no dia 14 de janeiro que não enviaria representação diplomática aos Jogos, devido à situação dos direitos humanos na China.

O resto da União Europeia

Vários Estados-Membros ainda não se pronunciaram, argumentando que aguardam uma tomada de decisão em comum acordo da União Europeia (UE).

Na França, o discurso é contraditório. O Ministério da Educação, Juventude e Esportes declarou à imprensa que “o esporte é um mundo em si que deve ser preservado tanto quanto possível da interferência política”, confirmando a presença de algumas autoridades. Do outro lado, o ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, afirmou que Paris é “a favor da posição comum” e que “esta questão deve ser tratada como a Europa”.

Alemanha deu justificativa semelhante à maioria que não bateu o martelo sobre o assunto, argumentando que “a decisão deve ser tomada em harmonia com nossos amigos europeus”.

Apesar da declarada predileção por uma posição afinada, vários líderes duvidam da capacidade do bloco de chegar a uma decisão conjunta e até mesmo da utilidade de um boicote Caso do primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean Asselborn, que afirmou que “os Jogos Olímpicos são sempre políticos, não há Jogos Olímpicos politicamente neutros”.

Reino Unido

O premiê britânico Boris Johnson anunciou o boicote no dia 8 de dezembro. “Haverá efetivamente um boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno em Beijing”, declarou ele, acrescentando que “o governo não hesita em levantar essas questões com a China, como fiz com o presidente Xi na última vez em que falei com ele”.

NAS AMÉRICAS

O primeiro país a anunciar o boicote foi os Estados Unidos, decisão que se escorou sobretudo nas acusações de genocídio que pesam contra Beijing na região de Xinjiang, devido ao tratamento dispensado pelo país à minoria étnica dos uigures.

O Canadá seguiu o exemplo. O primeiro-ministro Justin Trudeau se justificou: “Nos últimos anos, temos sido muito claros sobre nossas profundas preocupações em relação às violações dos direitos humanos“.

NA ÁSIA

Japão não enviará uma delegação de ministros aos Jogos, mas preferiu não chamar o gesto de boicote, como explicou o secretário-chefe de gabinete Hirokazu Matsuno à imprensa: “Não usamos um termo específico para descrever como comparecemos”.

Já o premiê Fumio Kishida, que fez dos direitos humanos a principal bandeira de sua diplomacia ao criar um cargo consultivo especial para lidar com a questão, disse que espera estabelecer uma relação construtiva com os vizinhos. “O Japão acredita que é importante para a China garantir os valores universais de liberdade, respeito pelos direitos humanos básicos e o Estado de Direito, que são valores universais na comunidade internacional”, disse Matsuno.

NA OCEANIA

A Austrália foi o primeiro país a seguir o passo de Washington, anunciando o boicote em 8 de dezembro. O primeiro-ministro Scott Morrison usou o mesmo argumento dos abusos dos direitos humanos, mas citou ainda as recentes sanções impostas por Beijing a Camberra. A relação bilateral entre as nações está desgastada, e o embaixador da China em Camberra, Cheng Jingye, anunciou em outubro que deixaria o posto ao fim do mandato.

A Nova Zelândia apoiou Canberra na decisão, justificando que era “a coisa certa a fazer”. No entanto, as autoridades locais enfatizaram que “houve uma série de fatores, mas principalmente a ver com Covid-19”.

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