EUA e Rússia iniciam reaproximação diplomática após anos de ruptura e colocam a Ucrânia de lado

Encontro histórico também abriu caminho para negociações que podem levar ao fim da guerra, mas Kiev ficou fora do debate inicial

As relações EUA e Rússia começam a ser descongeladas após anos de embates diplomáticos. Em uma reunião realizada em Riad, na Arábia Saudita, autoridades de alto escalão dos dois países concordaram em restabelecer laços formais, incluindo o retorno de embaixadores e a reativação de canais de comunicação diretos. Foi o encontro mais significativo entre Washington e Moscou desde o início da guerra na Ucrânia em 2022. As informações são da agência Associated Press (AP).

A delegação americana foi liderada pelo secretário de Estado Marco Rubio, enquanto o chanceler russo, Sergei Lavrov, representou Moscou. Entre os temas discutidos, além da reaproximação diplomática, esteve a possibilidade de uma negociação para encerrar a guerra na Ucrânia, embora o debate tenha ocorrido sem a presença de Kiev, ausência que gerou desconforto entre aliados europeus e reforçou temores de que um acordo futuro possa ser feito sem considerar os interesses do governo de Volodymyr Zelensky.

A primeira medida concreta da reunião foi um compromisso para a rápida nomeação de novos embaixadores nos dois países, além da remoção de barreiras burocráticas que dificultam o funcionamento das representações diplomáticas em Moscou e Washington. Lavrov afirmou que uma nova rodada de negociações acontecerá em breve para “remoção de barreiras artificiais ao trabalho das embaixadas dos EUA e da Rússia e outras missões”.

Donald Trump, presidente dos EUA, 18 de fevereiro de 2025 (Foto: White House/Flick)

A erosão da presença diplomática americana e russa começou muito antes da invasão da Ucrânia. Desde a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, expulsões de diplomatas e fechamento de consulados tornaram-se frequentes, atingindo um ápice após o envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal no Reino Unido em 2018. O encontro de Riad buscou estancar essa escalada de represálias e criar um ambiente favorável para futuras negociações.

Cessar-fogo no horizonte

A criação de grupos de trabalho para discutir um possível cessar-fogo na Ucrânia foi outro resultado da reunião. Não há uma data definida para os primeiros encontros, mas as partes indicaram que a questão territorial e as garantias de segurança serão centrais. O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Mike Waltz, afirmou que o engajamento diplomático é indispensável para qualquer acordo.

Moscou, por sua vez, deixou claro que rejeita qualquer presença militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no território ucraniano como parte de uma eventual solução para a guerra. Lavrov reiterou que “o envio de tropas de países da Otan, mesmo sob bandeira da União Europeia, não será aceitável para a Rússia”.

A decisão de não incluir a Ucrânia no primeiro estágio das conversas gerou reações imediatas. Zelensky adiou uma viagem que faria à Arábia Saudita para evitar qualquer associação com as tratativas entre russos e americanos. O secretário de Estado Marco Rubio tentou minimizar a exclusão de Kiev, afirmando que a Ucrânia será envolvida no processo de negociação caso as tratativas avancem.

“Ninguém está sendo marginalizado aqui”, disse Rubio. “Obviamente, haverá engajamento e consulta com a Ucrânia, com nossos parceiros na Europa e outros. Mas, no final das contas, o lado russo será indispensável para esse esforço.”

Outro ponto delicado discutido foi a possibilidade de os EUA flexibilizarem sanções impostas à Rússia desde a gestão de Joe Biden. Questionado sobre o tema, Rubio disse que “todo processo de negociação envolve concessões”, mas evitou especificar quais medidas poderiam ser revisadas.

Além da questão ucraniana, o encontro também abriu espaço para potenciais áreas de cooperação entre os dois países, incluindo projetos energéticos conjuntos. Kirill Dmitriev, chefe do Fundo Russo de Investimento Direto e membro da delegação de Moscou, sugeriu que Washington e Moscou podem retomar parcerias estratégicas no Ártico e em outras regiões caso o impasse político seja superado.

Tags: