A Alemanha anunciou nesta segunda-feira (6) que seu embaixador em Moscou retornará a Berlim para uma semana de “consultas”. A reprimenda diplomática à Rússia está atrelada a um ataque de hackers que o governo alemão atribuiu a um grupo ligado ao Kremlin, segundo a agência Associated Press (AP).
Na semana passada, a Alemanha acusou a Rússia de estar por trás de um campanha digital maliciosa contra o Partido Social-Democrata, do chanceler Olaf Scholz, e outros alvos do governo e de setores cruciais da indústria do país.
“O governo alemão leva este evento muito a sério, como um comportamento contra a nossa democracia liberal e as instituições que a apoiam”, disse nesta segunda a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores alemão, Kathrin Deschauer, ao justificar a convocação do embaixador Alexander Lambsdorff.
Segundo Berlim, a campanha dos hackers russos, que estariam a serviço da inteligência do país, teria começado em março de 2022. E-mails de membros do partido e de empresas locais, inclusive dos setores de defesa e aeroespacial, teriam sido invadidos em busca de conteúdo sensível.
Alvo preferencial
Episódios de espionagem, ataques cibernéticos e até ações de sabotagem têm se repetido na Alemanha, invariavelmente atribuídos a agentes russos. O maior temor de Berlim é o de que sua infraestrutura crítica seja alvo de Moscou devido ao apoio do governo alemão à Ucrânia na guerra.
Em junho de 2021, o diretor da Agência para a Proteção da Constituição, Thomas Haldenwang, afirmou que a Rússia possui enorme interesse em Berlim, sobretudo nas “áreas políticas”.
A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco. Inclusive em questões referentes a Moscou. Haldenwang disse que há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas. “A abordagem está cada vez mais dura e implacável”, afirmou.
Em setembro de 2022, Berlim anunciou que dois funcionários de seu Ministério da Economia estavam sob investigação por suspeita de espionagem em favor da Rússia. Os nomes não foram revelados, apenas que ambos eram responsáveis por questões energéticas sensíveis e teriam ajudado a alimentar o debate pró-Moscou, espalhando críticas ao chanceler Olaf Scholz por suspender o processo de regularização do gasoduto Nord Stream 2.
No início de outubro daquele ano, a Deutsche Bahn (DB), operadora do sistema ferroviário alemão, foi alvo de uma ação que interrompeu a circulação de trens de carga e de passageiros por cerca de três horas. O Ministério dos Transportes suspeita de sabotagem, vez que cabos essenciais para a segurança do tráfego ferroviário foram deliberadamente cortados.
Naquele mesmo mês, o Ministério do Interior da Alemanha anunciou a demissão de Arne Schoenbohm, que até então chefiava o Departamento Federal de Segurança da Informação. A proximidade com a Rússia levou à decisão.
Há cerca de dez anos, Schoenbohm fundou um grupo de segurança digital que reúne entidades dos setores privado e público. Porém, em 2022 surgiu a denúncia de que uma empresa participante foi fundada por um agente russo, situação que teria sido ignorada pelo chefe do Departamento Federal de Segurança da Informação.