Alemanha, França Lituânia e Letônia anunciam a expulsão de dezenas de diplomatas da Rússia

Berlim classificou 40 russos como "indesejáveis", enquanto Paris expulsou 35. Massacre de civis em Bucha foi a principal justificativa

Alemanha, França, Lituânia e Letônia anunciaram na segunda-feira (4) a expulsão de dezenas de diplomatas da Rússia. O anúncio é parte da reação europeia às denúncias de um massacre de civis por tropas russas na cidade de Bucha, na Ucrânia, cujas imagens foram reveladas no sábado (2). As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha três dias após a retirada do exército russo que controlava a cidade, segundo a rede CNN. De acordo com o prefeito Anatoliy Fedoruk, em entrevista à agência Reuters, mais de 300 civis foram mortos na cidade pelas tropas russas, número que carece de uma verificação independente.

Em Bucha, imagens de agências de notícias reveladas no final de semana mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do tronco, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, diz que a decisão de expulsar os diplomatas russos é uma resposta à “brutalidade inacreditável” do Kremlin na Ucrânia. No total, Berlim listou 40 russos como “indesejáveis”

Em comunicado, o governo alemão afirmou ainda que os diplomatas teriam que deixar o país por atuarem “contra nossa liberdade, contra a coesão de nossa sociedade”. “Não vamos tolerar mais isso”, afirmou Baerbock. Os indivíduos afetado pela decisão têm um prazo de cinco dias para ir embora.

Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da França, Emmanuel Macron, em 7 de fevereiro de 2022 (Foto: Wikimedia Commons)

A ação foi seguida pela França, com uma lista de 35 expulsos por desempenharem atividades “contra nossos interesses de segurança”. Em comunicado oficial, Paris alegou que o movimento também está diretamente relacionado ao massacre em Bucha.

A Lituânia, por sua vez, expulsou o embaixador russo em Vilnius e convocou seu principal diplomata em Moscou para retornar ao país. “A Lituânia está em total solidariedade com a Ucrânia e o povo ucraniano, que são vítimas da agressão sem precedentes da Rússia. Estamos, portanto, diminuindo o nível da representação diplomática da Rússia”, disse o ministro das Relações Exteriores Gabrielius Landsbergis.

“Infelizmente, o que o mundo viu em Bucha pode ser apenas o começo. Poderemos descobrir ainda mais evidências de crimes de guerra cruéis em outras cidades após sua libertação”, afirmou Landsbergis, citando outras cidades ucranianas que estão sob controle russo. “Os crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos pelas forças armadas russas na Ucrânia não serão esquecidos”.

Na sequência do anúncio feito pela Lituânia, a vizinha Letônia disse estar “reduzindo suas relações diplomáticas com a Federação Russa”. Entretanto, Riga não deu maiores detalhes, dizendo apenas que se manifestaria oficialmente “uma vez concluídos os procedimentos internos”.

Por que isso importa?

Casos de diplomatas russos expulsos por países europeus, sob acusação de desempenharem atividades incompatíveis com suas funções, não são novidade. O país mais afetado por tais atividades suspeitas é a Alemanha, dona da maior população e da principal economia da UE, o que a torna forte influenciadora do bloco, inclusive em assuntos ligados à Rússia.

A relação diplomática entre os dois países é ruim desde 2014, quando da anexação da região da Crimeia, na Ucrânia, pela Rússia. Desde então, a UE proibiu a venda para empresas russas de bens de dupla utilização, aqueles que poderiam também ter uso militar, e os casos de espionagem se acumulam

Em março de 2021, um ciberataque atingiu 38 parlamentares alemães, parte da campanha Ghostwriter atribuída a hackers russos ligados ao GRU (Departamento Central de Inteligência). O alvo eram políticos do SPD (Partido Social Democrata) e da CDU (União Democrática Cristã), esta segunda a sigla da ex-chanceler Angela Merkel. Mais tarde, em outubro, um diplomata russo, suposto agente da FSB (Agência Nacional de Segurança da Rússia) foi encontrado morto em frente à embaixada em Berlim.

O caso que mais contribuiu para estremecer as relações entre Berlim e Moscou ocorreu em 2020. Foi o envenenamento do principal opositor do Kremlin, Alexei Navalny, que aliados dele atribuem ao presidente russo Vladimir Putin. A vítima se recuperou na capital antes de retornar à Rússia, onde está preso desde fevereiro de 2021.

A Ucrânia, agora integralmente invadida por tropas de Moscou, também detectou forte atividade de inteligência russa nos últimos anos. Um relatório divulgado pelo SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia, da sigla em inglês), no final de 2021, aponta que mais de 20 oficiais da inteligência russa operavam no país sob cobertura diplomática e foram denunciados desde 2014. O trabalho já levou aos tribunais mais de 180 réus, que foram posteriormente considerados culpados por traição e espionagem.

Até mesmo a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) foi alvo dos espiões, tendo anunciado, em outubro do ano passado, a expulsão de oito diplomatas russos. Como consequência, à época, a aliança ainda reduziu pela metade a equipe de Moscou dentro de seu quartel-general.

Em março deste ano, já em meio à guerra, outros dois países europeus anunciaram a expulsão de supostos diplomatas russos. Primeiro a Bulgária, que determinou a saída do país de dez russos acusados de desempenharem funções incompatíveis com o status diplomático. Uma semana depois foi a vez da Polônia, cuja lista de expulsões tinha 45 pessoas.

No caso mais recente, quatro países da União Europeia (UE) expulsaram 43 diplomatas russos, também em março. A Holanda puxou a fila, com 17 diplomatas expulsos por desempenharem “atividades secretas” como agentes de inteligência. A Bélgica, em ação coordenada com o vizinho, expulsou 21 russos na sequência. O terceiro país a aderir à ação foi a República Tcheca, com um nome, enquanto a Irlanda anunciou uma lista com quatro indivíduos convidados a deixar o país.

Eslováquia, Estônia e Montenegro são outros países da Europa que nos últimos meses anunciaram a expulsão de diplomatas russos em casos supostamente associados a espionagem.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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