Por Cristiane Noberto e Paulo Tescarolo
“O suicídio está fora de questão. Foi uma execução”. Em conversa com A Referência, foi assim que o belarusso Gipius Yury Shtchutchko, da ONG BDU (Casa Belarussa na Ucrânia, da sigla em inglês), classificou a morte do amigo Vital Shуshou, que foi encontrado enforcado em um parque de Kiev na última terça-feira (3).
Exilado na Ucrânia, Shyshou dirigia a BDU, que ajuda seus compatriotas a fugirem da opressão do regime de Alexander Lukashenko. Ele foi dado como desaparecido desde que saiu de casa para praticar exercícios, no dia anterior. O aparente suicídio é tratado pelas autoridades policiais ucranianas como um possível assassinato.
“Entendemos isso como uma mensagem clara do ditador a toda a diáspora belarussa. Não é a primeira ameaça”, disse À Referência Volha Yermalayeva Franco, representante da Embaixada Popular de Belarus no Brasil.
Shtchutchko diz não enxergar nenhum indício de que Shyshou tenha tirado a própria vida. “Um jovem de 26 anos que ama e é amado, tem uma renda decente, que se dedica a uma causa em benefício da diáspora belarussa na Ucrânia… Não, eu não acredito”.
Ele cita informações iniciais obtidas com a polícia ucraniana para reforçar sua tese. “Houve vestígios de luta: os nós dos dedos arranhados, o nariz quebrado… O suicídio está fora de questão”. E acusa o presidente. “Em Belarus, tal ordem, para eliminação física, só pode ser dada por uma pessoa, e todos nós sabemos quem é. É o usurpador que tenta roubar o futuro do país: Aleksander Lukashenko“.
Numa conversa que teve com o amigo, Shtchutchko conta que ele “pediu para não deixar sua namorada sem ajuda se algo acontecesse de repente. Eu perguntei o porquê, e ele simplesmente disse: ‘um mal pressentimento'”.
Caso anteriores
No ano passado, duas mortes suspeitas foram tratadas como suicídio em Belarus. Em agosto, Mikita Kryutsou foi encontrado morto em um matagal, enforcado e com sinais de tortura. Ele havia participado dos protestos contra fraudes eleitorais em 2020.
Outra vítima foi Kanstantsin Shyshmakou, diretor de um museu em Vaukavysk que havia se recusado a assinar um protocolo da comissão eleitoral nas eleições de 2020. Ele foi encontrado morto e não houve investigação. A polícia concluiu se tratar de suicídio.
A Ucrânia, inclusive, já foi palco do assassinato de um opositor de Lukashenko. Em 20 de julho de 2016, em Kiev, o jornalista Pavel Sharamet morreu quando uma bomba explodiu sob seu carro. A investigação ainda não foi concluída.