Após condenação de espião por homicídio, Alemanha expulsa dois diplomatas russos

Berlim classificou o assassinato de Tornike Kavtarashvili, em agosto de 2019, como "grave violação da lei alemã e da soberania da Alemanha"

O governo alemão anunciou na quarta-feira (15) a expulsão de dois diplomatas russos lotados na Alemanha, decisão que é desdobramento direto da condenação criminal de um cidadão russo por um assassinato cometido há cerca de dois anos em Berlim. As informações são da Radio Free Europe.

Annalena Baerbock, ministra das Relações Exteriores alemã, disse que comunicou as expulsões ao embaixador russo Sergei Nechayev, sob a alegação de que o assassinato de Tornike Kavtarashvili, em agosto de 2019, foi uma “grave violação da lei alemã e da soberania da República Federal da Alemanha”.

Na semana passada, a Promotoria da Alemanha pediu prisão perpétua, sem direito a liberdade condicional, para o russo Vadim Krasikov, acusado de atirar em Zelimkhan Khangoshvili, pseudônimo adotado por Tornike Kavtarashvili, um ex-comandante checheno que vivia em Berlim. O crime teria sido ordenado por Moscou.

A embaixada russa emitiu um comunicado no qual classificou as alegações de envolvimento do Kremlin no homicídio como “tendenciosa e politicamente motivada”.

“A declaração absurda de que a Federação Russa estava envolvida neste ato ilícito foi metodicamente imposta ao público durante todo o julgamento, tecida no pano de fundo anti-russo geral, mas no final nunca foi confirmada por nenhuma evidência convincente. preocupações com o resultado, e tal ato hostil não ficará sem resposta”, diz o texto.

Após condenação de espião por homicídio, Alemanha expulsa dois diplomatas russos
Vadim Krasikov, russo acusado de assassinato a mando de Moscou em Berlim (Foto: bellingcat.com)

Retaliação e intimidação

Identificado pela Justiça Federal alemã como “comandante de uma unidade especial dos serviços secretos russos da FSB” (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês), Krasikov ingressou na Alemanha com passaporte russo e nome falso, Vadim Sokolov. Foi preso pouco depois do crime e alega inocência desde então.

Lars Malkies, um dos promotores encarregados do caso, disse ao tribunal que o suspeito “liquidou um oponente político como um ato de retaliação”. Já o colega dele Nikolaus Forschner afirmou que o acusado havia cumprido uma “ordem estatal de matar”. Segundo eles, o crime foi encomendado pelo Estado russo não apenas como retaliação, mas também como uma mensagem intimidadora a outros chechenos que busquem asilo no exterior.

Khangoshvili, a vítima, lutou contra as tropas da Rússia na Chechênia e já havia sobrevivido a outras tentativas de assassinato. Ele continuou a receber ameaças depois de fugir em 2016 para a Alemanha, onde recebeu asilo.

Por que isso importa?

As atividades de espionagem russas na Alemanha aumentaram muito nos últimos anos, atingindo níveis semelhantes aos dos tempos de Guerra Fria. Em junho, o diretor da Agência para a Proteção da Constituição, Thomas Haldenwang, afirmou que a Rússia possui enorme interesse em Berlim, sobretudo nas “áreas políticas”.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da UE (União Europeia), o que a torna forte influenciadora no bloco. Inclusive em questões referentes a Moscou. Haldenwang diz que há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas. “A abordagem está cada vez mais dura e implacável”, diz.

Alguns casos ligados à espionagem russa na Alemanha vieram a público, como o ataque cibernético contra 38 parlamentares alemães em março. A invasão faria parte da campanha “Ghostwriter”, supostamente do GRU (Serviço de Inteligência Militar da Rússia). O alvo eram políticos do SPD (Partido Social Democrata) e da CDU (União Democrática Cristã), esta a sigla da chanceler Angela Merkel.

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