Após veredito do voo MH17, Holanda contesta resposta de Moscou e convoca embaixador

Rússia acusou tribunal holandês de "negligenciar a imparcialidade" ao condenar três homens à prisão perpétua, incluindo dois cidadãos russos

O governo da Holanda convocou o embaixador russo no país para buscar esclarecimentos sobre a resposta de Moscou ao veredito no julgamento da queda do voo MH17, informou a imprensa local nesta sexta-feira (18). A Rússia acusou um tribunal holandês de motivação política ao aplicar as sentenças no caso do avião da Malaysia Airlines derrubado em 2014 enquanto sobrevoava a Ucrânia, deixando 298 pessoas mortas. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

O mal-estar diplomático teve origem na quinta (17), quando o Ministério das Relações Exteriores da Rússia classificou como “escandalosa” e com “argumentos duvidosos da acusação” a decisão de juízes holandeses, que sentenciaram dois cidadãos russos e um ucraniano à prisão perpétua por seus papéis na queda do voo sobre o turbulento leste da Ucrânia.

“Ao fazer isso, a Rússia desacredita o Estado constitucional holandês. Isso é absolutamente inaceitável”, disse o Ministério das Relações Exteriores holandês à agência de notícias AFP

Destroços do avião da Malaysia Airlines (Foto: Jeroen Akkermans/Flickr)

De acordo com investigações internacionais, o Boeing 777, que viajava de Amsterdã para Kuala Lumpur, foi abatido por um míssil russo disparado de uma base russa em Kursk, perto da fronteira com o território ucraniano, zona do conflito separatista armado.

O tribunal afirmou que os condenados, os russos Igor Girkin e Sergei Dubinsky e o ucraniano Leonid Kharchenko, faziam parte de um grupo separatista controlado por Moscou no leste da Ucrânia. Os três foram apontados como responsáveis por “ajudar a obter e mover o míssil fornecido pela Rússia que derrubou o MH17”. Eles estão foragidos e acredita-se que estejam em território russo.

Como as condenações foram proferidas à revelia – quando o réu é comunicado oficialmente do processo e não se defende –, é improvável que os homens cumpram a sentença. Um quarto suspeito, o russo Oleg Pulatov, foi absolvido por falta de provas.

Embora negue qualquer envolvimento com o ataque que levou à queda do avião, o Kremlin se recusa a extraditar os acusados, o que é proibido pela Constituição russa.

Os foragidos

Igor Girkin foi um dos principais comandantes separatistas no início do conflito com o exército ucraniano. Ele negou em dezembro de 2021 que os rebeldes tenham derrubado o avião. “Se eles pudessem ter me condenado à morte, eles o teriam feito, sem dúvida”, afirmou.

Sergei Dubinsky está ligado à inteligência militar russa, enquanto Poulatov (absolvido) é ex-membro das forças especiais russas. Acredita-se que o ucraniano Leonid Kharchenko tenha liderado uma unidade separatista no leste da Ucrânia. Todos se recusaram a comparecer ao tribunal e foram julgados à revelia.

Embora o julgamento tenha ocorrido sem a presença deles, os promotores disseram em março de 2020, no início dos trabalhos, que lutariam para evitar a impunidade dos réus, caso fossem condenados. “Nós faremos tudo ao nosso alcance para garantir que ela (a pena) seja executada, seja na Holanda ou em qualquer outro lugar”.

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