Ataque ao sistema ferroviário polonês aumenta suspeitas de sabotagem russa na Europa

Durante o ataque, sinais de rádio interferiam no tráfego e forçaram os trens a parar, com o hino russo tocado ao fundo

No último final de semana, o sistema ferroviário da Polônia teve uma série de problemas, com sinais de rádio interferindo no tráfego e forçando trens a interromperem suas viagens em diversos momentos. Os indícios apontam para sabotagem, e a Rússia surge como mais provável responsável pelo ataque, algo que já se tornou corriqueiro no continente europeu.

Durante os ataques, conforme os sinais de rádio interferiram no tráfego ferroviário, era possível ouvir o hino russo ao fundo, de acordo com a agência Associated Press (AP). É o indício mais forte de que talvez Moscou esteja por trás da ação, possivelmente em represália ao apoio polonês à Ucrânia na guerra.

Trem na estação ferroviária de Warszawa Srodmiescie, Polônia, 2019 (Foto: KGBO/WikiCommons)

O interesse russo nas ferrovias também tem uma justificativa estratégica. São os trens poloneses que transportam 80% das armas fornecidas por nações ocidentais a Kiev na guerra, bem como parte da produção agrícola ucraniana vendida ao Ocidente.

O Ministério Público polonês tem uma investigação em curso e diz que prendeu dois homens no domingo (27). Eles teriam gerado sinais de rádio responsáveis pela interrupção da circulação de cinco trens de passageiros e um de carga nas proximidades da cidade de Bialystok, no nordeste do país.

O sucesso da ação explica-se por uma fragilidade no obsoleto sistema ferroviário da Polônia, de acordo com o jornal The Washington Post. Ocorre que os trens automaticamente param quando recebem três sinais tonais através de suas redes de rádio. A mudança para um sistema digital está em curso.

Recentemente, o governo polonês diz que aumentou a segurança de sua rede ferroviária após frustrar uma campanha de sabotagem que pretendia descarrilar um trem transportando armas para a Ucrânia. Moscou também pode estar por trás de uma colisão de trens de carga ocorrida na semana passada.

“Sabemos que durante alguns meses houve tentativas de desestabilizar o Estado polonês”, disse Stanislaw Zaryn, vice-coordenador dos serviços de inteligência poloneses. “Tais tentativas foram empreendidas pela Federação Russa em conjunto com Belarus.”

Sabotagem russa na Europa

No ano passado, uma série de atos de aparente sabotagem atingiram diversos países europeus. Trens paralisados por danos causados à fiação, gasoduto fora de serviço, internet interrompida devido ao corte de cabos e drones suspeitos em áreas restritas foram registrados em países como França, Alemanha, DinamarcaNoruega. Ainda não há provas concretas para apontar os responsáveis, mas especialistas têm o mesmo suspeito óbvio que a Polônia: a Rússia.

O caso de maior repercussão foi o das explosões que destruíram seções do gasoduto Nord Stream, responsável por transportar gás natural russo para a Alemanha. Moscou, como de praxe, apontou o dedo para seus inimigos, alegando, sem exibir qualquer prova, que o governo britânico havia causado o problema para a culpar a Rússia. Igualmente sem evidências, Ucrânia e Polônia apontaram na direção oposta.

O episódio ocorreu em setembro de 2022, quando duas explosões subaquáticas geraram grandes vazamentos de gás em dois dutos do Nord Stream na ilha dinamarquesa de Bornholm. As detonações ocorreram nas áreas econômicas exclusivas de Suécia e Dinamarca, impactando o fornecimento. Até hoje não está claro como o problema aconteceu, embora uma investigação das autoridades suecas, concluída em novembro, tenha confirmado que houve sabotagem.

No início de outubro do ano passado, a Deutsche Bahn (DB), operadora do sistema ferroviário alemão, foi alvo de uma ação que interrompeu a circulação de trens de carga e de passageiros por cerca de três horas. O Ministério dos Transportes suspeita de sabotagem, vez que cabos essenciais para a segurança do tráfego ferroviário foram deliberadamente cortados.

O ataque ao sistema ferroviário ocorreu em meio a um vertiginosos aumento dos casos de espionagem, ataques cibernéticos e atos de sabotagem invariavelmente atribuídos pela Alemanha a agentes russos. Nesse cenário, dois funcionários do Ministério da Economia foram colocados sob suspeita de espionagem, o chefe do Departamento Federal de Segurança da Informação foi demitido devido à proximidade com Moscou e um diplomata russo, supostamente um espião, morreu misteriosamente em Berlim.

Também em outubro, a ilha dinamarquesa de Bornholm ficou sem luz devido ao corte de um cabo submarino. Já a linha de internet que alimenta cidades como Marselha e Lyon, na França, Barcelona, na Espanha, e Milão, na Itália, foi interrompida também porque cabos foram danificados. Noruega e Suécia, por sua vez, foram palco de episódios envolvendo drones suspeitos sobrevoando áreas sensíveis, e até um avião russo foi identificado no espaço aéreo dos dois países.

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