Empresas de comunicação são investigadas pela cobertura jornalística da eleição turca

Órgão regulador está investigando seis emissoras da oposição por “insultarem o público" na cobertura do segundo turno

Na terça-feira (30), o órgão regulador dos meios de comunicação privados da Turquia, o RTÜK, anunciou que está conduzindo uma investigação direcionada a seis canais de TV ligados à oposição. O processo ocorre devido a alegações de “insulto ao público” na cobertura do segundo turno da eleição presidencial, ocorrida no último domingo (28) e que deu a Recep Tayyip Erdogan mais cinco anos no poder. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Apesar de o RTÜK ter mencionado que houve reclamações dos telespectadores em relação à cobertura eleitoral, não foram apresentados exemplos específicos. Entre os canais investigados, o Tele 1, em seu site, afirmou que essa ação evidencia que “o mecanismo de censura do governo está em pleno funcionamento”. Os outros são são Halk TV, KRT TV, TV 5, Flash Haber TV e Szc TV.

A eleição foi caracterizada por ataques à liberdade de imprensa, segundo relatado pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Antes do processo de votação, diversos jornalistas foram detidos, presos, condenados e agredidos, frequentemente durante a cobertura eleitoral.

Erdogan está no poder há 20 anos e foi reeleito por mais 5 (Foto: Türkiye Government/Reprodução Twitter)

Cathryn Grothe, analista de pesquisa da Freedom House, uma ONG dedicada a promover e defender a liberdade e a democracia em todo o mundo, destaca que tanto a liberdade de expressão online quanto offline sofreram um declínio significativo na Turquia ao longo da última década.

“O presidente Erdogan e o AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento, sigla de mote islâmico-conservador) têm exercido cada vez mais controle sobre o ambiente da mídia, censurando veículos de notícias independentes e silenciando aqueles que criticam o governo ou suas políticas”, disse Grothe.

Ela também enfatizou que a investigação recente realizada pelo RTÜK em seis canais de televisão da oposição, com acusações politicamente motivadas de “insultar o público”, é um exemplo adicional de como as autoridades turcas estão empenhadas em controlar a narrativa e silenciar a oposição.

Essa investigação não causou surpresa também a Erol Onderoglu, representante turco da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

“Agora sabemos que o objetivo final daqueles que dizem ‘morte para a crítica’ é silenciar completamente aqueles que fazem vozes diferentes arbitrariamente”, disse Onderoglu.

Cobertura do terremoto gerou multas

Em abril, o RTÜK aplicou multas a três dos canais citados devido à sua cobertura, incluindo reportagens que criticavam os esforços de resgate após um terremoto que abalou o país ou que apresentavam vozes da oposição às políticas do AKP.

Em 2022, o Artigo 19, um grupo de defesa da liberdade de expressão, relatou que o RTÜK emitiu 54 penalidades a cinco emissoras independentes, em contraste com apenas quatro penalidades aplicadas a canais pró-governo.

Segundo a agência Associated Press, analistas de mídia e defensores dos direitos humanos expressaram preocupação quanto às consequências de mais um mandato do presidente Erdogan para a sociedade civil. Durante sua presidência, houve repressão à mídia, censura na Internet e uma postura hostil em relação a grupos minoritários. Essas questões têm sido motivo de alarme e levantam dúvidas sobre o futuro da liberdade de expressão e dos direitos humanos na Turquia.

De acordo com a RSF, a Turquia tem um desempenho muito baixo no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, ocupando a 165ª posição entre 180 países avaliados.

Tal classificação reflete a situação desafiadora enfrentada pela imprensa no país, onde as restrições e pressões governamentais têm um impacto significativo na liberdade de expressão e no trabalho dos jornalistas.

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