Banco de dados vazado revela números elevados de baixas entre as tropas da Rússia na Ucrânia

Arquivos de desertor russo expõem mais de 165 mil hospitalizações de soldados, incluindo altos oficiais e mercenários

Um vasto banco de dados vazado por um desertor russo revelou informações detalhadas sobre as baixas da Rússia na guerra contra a Ucrânia, expondo a magnitude da crise enfrentada pelas forças militares de Moscou. Os registros obtidos pela rede Radio Free Europe (RFE) contêm nomes, patentes, datas de internação e alta, locais de tratamento e tipos de ferimentos de 165.584 soldados hospitalizados desde o início da invasão, em 24 de fevereiro de 2022, até junho de 2024.

A base de dados inclui desde recrutas e mercenários estrangeiros até generais de alta patente. Entre os registros está a hospitalização do tenente-general Igor Kirillov, ex-comandante das Tropas de Proteção Radiológica, Química e Biológica, que passou mais de um mês internado em um hospital militar em Moscou após ser baleado na perna em março de 2024. Nove meses depois, ele foi assassinado em um atentado com um patinete explodindo em frente ao seu prédio na capital russa.

Inteligências ocidentais estimam que mais de um milhão de soldados tenham sido mortos ou feridos na guerra, com as baixas russas superando 700 mil, segundo avaliações ocidentais. Um estudo do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos indica que pelo menos 172 mil soldados russos foram mortos e 611 mil ficaram feridos, sendo que mais da metade sofreu ferimentos graves que os impedem de voltar ao combate.

Cerimônia das Forças Armadas da Rússia em homenagem a militares mortos (Foto: Facebook/mod.mil.rus)

O vazamento, entregue pelo sargento Aleksei Zhilyayev, ex-comandante de uma unidade de evacuação, também revela como as autoridades russas tratam seus feridos. Apesar de afirmar que 97% dos soldados hospitalizados retornam ao front, o governo de Moscou é acusado de pressionar hospitais a minimizar a gravidade dos ferimentos para reduzir indenizações. Dados também indicam que a evacuação médica no campo de batalha não melhorou desde o início da guerra, levando à morte de muitos combatentes antes que pudessem receber tratamento adequado.

O uso de drones por tropas ucranianas para atacar equipes de evacuação russa se tornou mais comum em 2024, reduzindo ainda mais as chances de sobrevivência dos feridos. “Por isso, os que chegavam aos hospitais eram os que conseguiam sair do campo de batalha por conta própria”, afirmou Zhilyayev em entrevista. A base de dados também revela que muitos oficiais de baixa patente simplesmente desaparecem das estatísticas de hospitalização, indicando que estão morrendo antes mesmo de serem evacuados.

A infiltração de mercenários e prisioneiros alistados também modificou significativamente o perfil do Exército russo. Além dos combatentes do extinto Wagner Group, soldados de ao menos dez países aparecem nos registros. O envelhecimento do efetivo é outra tendência perceptível nos dados: após a mobilização decretada por Vladimir Putin em setembro de 2022, aumentou significativamente o número de soldados com mais de 50 anos recrutados com promessas de pagamentos elevados.

Os documentos também evidenciam o impacto de ataques ucranianos a postos de comando russos, principalmente após a introdução dos sistemas de foguetes HIMARS (sistema de foguetes de artilharia de alta mobilidade) fornecidos pelos EUA. Nos primeiros meses, as baixas de oficiais de alta patente eram frequentes, mas os russos rapidamente mudaram suas posições para locais mais afastados da linha de frente, reduzindo as perdas entre generais. No entanto, os oficiais de patentes inferiores continuam a sofrer pesadas baixas.

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