Bancos de Belarus se preparam para sanção que os tiraria de sistema bancário global

Alternativa será rede financeira desenvolvida internamente na Rússia, que viabiliza operações bancárias em caso de punições internacionais

Enfrentando rígidas sanções por parte da União Europeia (UE), em função da política repressiva estatal e da crise dos migrantes na fronteira com países do bloco, bancos de Belarus se preparam para aderir à alternativa russa ao SWIFT, o sistema global de pagamentos que movimenta dinheiro entre milhares de instituições bancárias em todo o mundo. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

Temendo novas e pesadas sanções, as agências belarussas terão de se adaptar ao Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras (SPFS), uma rede financeira desenvolvida internamente na Rússia em 2014 para viabilizar operações bancárias em caso de punições internacionais que desconectem o país do SWIFT, responsável por identificar bancos e entidades financeiras ao redor do planeta.

O SPFS possui mais de 400 usuários domésticos, praticamente todos credores russos licenciados. No entanto, não é um sistema popular no mundo: está restrito a apenas 38 bancos de nove outros países que fazem uso dele.

Banco Nacional da República de Belarus (Foto: WikiCommons)

Segundo Denis Baryshkov, chefe da divisão de regulamentação e desenvolvimento do sistema nacional de pagamentos do Banco Central Russo, as instituições bancárias da ex-república soviética devem dar início às operações pelo SPFS em 2022.

“Pode-se dizer que os bancos belarussos já começaram a se preparar para a desconexão do sistema internacional de pagamentos”, antecipou o jornal moscovita Moskovsky Komsomolets.

Apesar de ter um custo três vezes inferior ao SWIFT, o SPFS é um barato que sai caro. A rede só opera durante o horário comercial de segunda a sexta-feira, e suas mensagens são limitadas a 20 kb de tamanho. Já o sistema internacional funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana e permite a transmissão de 10 MB. Além disso, a rede sediada na Bélgica conecta mais de 11 mil bancos em pelo menos 200 países.

Autoridades e bancos russos sabem bem dos riscos de ser desconectado do sistema, principalmente depois que tal medida passou a fazer parte dos pacotes de sanções que estremeceram a diplomacia entre o Kremlin e a comunidade internacional, relações que remetem ao período da Guerra Fria.

Por que isso importa?

A possibilidade de uma invasão da Ucrânia pela Rússia tende a gerar uma dura resposta dos EUA e da UE, mas dificilmente será uma ação militar. A medida mais provável seria através de sanções financeiras ainda mais duras do que aqueles que estão em vigor atualmente. E isso pode atingir Belarus, que tem na Rússia seu mais forte aliado.

O secretário de Estado norte-americano Antony Blinken afirmou recentemente que Washington tem na manga “medidas econômicas de alto impacto que evitamos tomar no passado”. Já o presidente Joe Biden falou em um “conjunto de iniciativas mais abrangente e significativo para tornar isso muito, muito difícil para [o presidente russo Vladimir] Putin”.

A mais dura opção de sanção é a exclusão do país do SWIFT, sistema de pagamentos baseado na Bélgica que movimenta dinheiro entre milhares de bancos em todo o mundo. É o que se convencionou chamar de “opção nuclear” no campo das sanções financeiras. E a medida já foi inclusive aprovada pelo Parlamento Europeu para o caso de invasão.

Punição semelhante foi imposta ao Irã devido à manutenção do programa nuclear do país, o que contrariou as exigências ocidentais. Fora do SWIFT, Teerã perdeu quase metade de sua receita de exportação de petróleo e um terço de seu comércio exterior, segundo Maria Shagina, especialista em sanções e política energética afiliada ao think tank moscovita Carnegie Moscow Center.

De acordo com Shagina, o impacto seria igualmente devastador para a economia da Rússia, que tem mais de um terço de receitas federais vinculadas às exportações de petróleo e gás natural e depende do SWIFT para movimentar o dinheiro. Embora tenha trabalhado arduamente nos últimos anos para se desvincular desse sistema de pagamentos, Mocou ainda depende dele fortemente.

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