Belarus condena empresário a 15 anos de prisão por administrar salas de bate-papo

Acusação cita divulgação de 'materiais extremistas'' e diz ainda que o acusado participou dos protestos populares de 2020

A Justiça de Belarus condenou a 15 anos de prisão o empresário local Stanislav Kuzmitsky, acusado de administrar salas de bate-papo online nas quais circularam “materiais extremistas sob estrito controle e orientação do exterior”. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE)

O julgamento foi realizado a portas fechadas no dia 3 de novembro, e o veredito foi tornado público somente agora pela ONG de direitos humanos Vyasna. “Ele foi detido no final de dezembro de 2021 e foi mantido no centro de detenção preventiva nº 1 em Minsk. Stanislav Kuzmitsky foi incluído na lista de pessoas envolvidas em atividades terroristas pela KGB de Belarus”, disse a entidade.

A acusação diz ainda que o empresário participou dos protestos populares que sucederam a eleição presidencial de 2020, que elegeu o presidente Alexander Lukashenko para seu sexto mandato, um pleito marcado por fortes indícios de fraude.

No mesmo dia da condenação de Kuzmitsky, três políticos de oposição que participaram dos protestos haviam sido igualmente sentenciados a prisão.

O trio é encabeçado por Mikalay Kazlou, líder do Partido Cívico Unido (AHP), condenado a cumprir dois anos e meio de prisão. Aksana Alyakseyeva, que comanda uma filial da sigla em Minsk pegou um ano e meio de prisão, enquanto a ativista de direitos humanos Antanina Kavalyova cumprirá um ano.

O presidente Alexander Lukashenko em visita a Vladimir Putin, Moscou, setembro de 2020 (Foto: Kremlin)
Por que isso importa?

Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições no ano passado.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição de 2020, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente, Natalya Eismont, chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Desde que os protestos começaram, após o controverso pleito, as autoridades do país têm sufocado ONGs e a mídia independente, parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. Ativistas de direitos humanos dizem que centenas de pessoas são atualmente prisioneiros políticos no país.

O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como ele lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.

A violenta repressão imposta por Lukashenko levou muitos oposicionistas a deixarem o país. Aqueles que não fugiram são perseguidos pelas autoridades e invariavelmente presos. É o caso de Sergei Tikhanovsky, que cumpre uma pena de 18 anos de prisão sob acusações que consideradas politicamente motivadas. Ele é marido de Sviatlana Tsikhanouskaia, candidata derrotada na eleição presidencial e hoje exilada.

O distanciamento entre o país e o Ocidente aumentou com a guerra na Ucrânia, vez que Belarus é aliado da Rússia e permitiu que tropas de Moscou usassem o território belarusso para realizar a invasão.

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