Bulgária prende funcionário do Ministério do Interior acusado de ser um espião russo

Uma das missões do agente era coletar informações capazes de ajudar a Rússia a driblar as sanções impostas pela União Europeia

A Bulgária anunciou na segunda-feira (5) a prisão de um funcionário do Ministério do Interior acusado de ser um espião a serviço da Rússia. O indivíduo, que não teve a identidade revelada, seria um agente do grupo de combate ao crime organizado da pasta, segundo informações do jornal Sofia Globe.

“Infelizmente, trata-se de um funcionário do Ministério do Interior, que estava sendo monitorado e fiscalizado. Confirmo que são ações de espionagem a favor de outro país, a Rússia. Mas, nesta fase, prefiro me abster de fazer mais comentários”, disse o ministro do Interior, Zhivko Kotsev.

Durante as investigações, as autoridades chegaram a realizar buscas na sede da Direção-Geral de Combate ao Crime Organizado (GDBOP), onde foram feitas buscas e interrogatórios. O funcionário será formalmente acusado de crime contra a República.

De acordo com o jornal The Moscow Times, entre as missões do espião estaria a coleta de informações capazes de ajudar a Rússia a driblar as sanções impostas pela União Europeia (UE) em função da guerra da Ucrânia.

O principal contato do acusado junto a Moscou seria um funcionário da embaixada russa em Sófia que já havia sido expulso do país, justamente sob a acusação de ser um agente de inteligência disfarçado de diplomata.

Desde 2019, a Bulgária mandou embora dezenas de supostos diplomatas russos que teriam usado seus cargos para esconder atividades de espionagem. Somente em junho de 2022 foram expulsos 70 indivíduos nestas condições.

Bandeias da Bulgária e da União Europeia (Foto: pxhere.com/Creative Commons)
Combate à espionagem russa

As atividades de espionagem russas na Europa sofreram um duro golpe nos últimos anos. Episódios como o envenenamento do ex-agente russo Sergei Skripal, no Reino Unido, levaram as nações do continente a fecharem o cerco contra Moscou, repressão que aumentou ainda mais com a guerra na Ucrânia.

Nos últimos anos, centenas de diplomatas russos foram expulsos de países europeus acusados de atuar como espiões disfarçados. Ken McCallum, diretor do MI5, o serviço de inteligência doméstica britânica, calculou em novembro de 2022 que mais de 600 russos foram obrigados a deixar países europeus nessas condições até ali.

“Isso foi o golpe estratégico mais significativo contra os serviços de inteligência russos na história recente da Europa”, disse McCallum na ocasião. “E, junto com ondas coordenadas de sanções, a escalada pegou (o presidente russo Vladimir) Putin de surpresa.”

Somente no Reino Unido, centenas de pedidos de vistos diplomáticos feitos por Moscou foram rejeitados desde 2018, quando Skripal e a filha dele, Yulia, foram envenenados em Salisbury, sul da Inglaterra. A inteligência russa foi acusada de coordenar a ação, embora Moscou até hoje negue envolvimento.

assassinato do homem (a filha sobreviveu) comprometeu as relações diplomáticas entre os governos britânico e russo e levou à primeira onda de expulsões de diplomatas suspeitos de atuarem como espiões. De lá para cá, diversos países europeus também detectaram membros do corpo diplomático russo que exerciam atividades incompatíveis com suas funções e igualmente os forçaram a ir embora.

Outro país que iniciou uma dura campanha de combate à espionagem russa foi a Alemanha, que em 2022 registrou um aumento considerável das atividades de inteligência de Moscou. Nesse sentido, relatório divulgado pelo Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), o serviço de inteligência doméstico, destaca as campanhas de desinformação como principal arma russa em solo alemão, embora atos de sabotagem também estejam em alta.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco e ajuda a explicar o interesse de Moscou pelo país. De acordo com Thomas Haldenwang, que chefia o BfV, há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas.

Nos últimos anos, para conter o problema, o governo alemão também expulsou dezenas de supostos diplomata russos acusados de atuar como espiões disfarçados. No final de maio de 2023, Berlim ainda anunciou que quatro dos cinco consulados da Rússia no país teriam suas licenças revogadas, sendo, portanto, fechados.

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