Wijnand Herinckx, um holandês de 40 anos residente em Moscou, tem abastecido lojas russas com produtos da Nike e Lego durante o conflito. Com o início da guerra na Ucrânia há mais de dois anos, ele desenvolveu um negócio próspero, suprindo consumidores russos com produtos ocidentais cujas empresas se retiraram do país. As informações são da agência Reuters.
Dentre os vários produtos da Nike disponíveis no site, incluem-se as chuteiras Phantom GT2 Elite da conhecida marca americana de vestuário esportivo, custando 29.999 rublos, o que equivale a aproximadamente R$ 1,7 mil.
Herinckx utiliza intermediários para adquirir os produtos, muitas vezes passando pela Turquia, antes de entregá-los aos varejistas na Rússia.
“A Nike não deseja que seus produtos sejam distribuídos na Rússia”, afirmou Herinckx à reportagem direto de seu escritório próximo a Moscou, que está abarrotado de caixas de sapatos de marcas ocidentais. No entanto, ele observou: “Eles também não estão explicitamente proibindo isso”. Tanto a Nike quanto a Lego informaram que não aprovaram as importações de seus produtos para a Rússia por Herinckx.

Herinckx revelou que sua companhia na Rússia tem 82 funcionários e espera faturar 35 milhões de euros (37 milhões de dólares) este ano, um aumento em relação aos 23,7 milhões de dólares de 2023.
Nike e Lego comunicaram à Reuters que não permitiram que Herinckx importasse seus produtos para a Rússia.
Herinckx afirmou que comercializa produtos de consumo que não estão sob sanções para a Rússia, e a Reuters não achou provas de infração das sanções em seu negócio.
Há relatos de agências que empresas como a de Herinckx acabam apoiando indiretamente a economia russa: os consumidores continuam podendo adquirir produtos estrangeiros aos quais estão acostumados desde o fim do comunismo, há mais de uma geração.
A empresa dele é uma entre várias que utilizam estratégias de mercado paralelo para trazer produtos de marcas que se retiraram do país após a invasão, para a Rússia.
Mais de mil marcas internacionais declararam o encerramento ou a diminuição de suas atividades na Rússia desde a invasão da Ucrânia, segundo um levantamento feito por pesquisadores da Escola de Gestão da Universidade de Yale.
Em resposta à saída em massa de empresas estrangeiras em 2022, a Rússia autorizou que empresas importassem produtos sem a necessidade de permissão dos detentores das marcas registradas.
Essas importações paralelas, conforme informado pela Rússia, atingiram mais de 70 bilhões de dólares nos dois anos até o final de 2023.
Êxodo não é total
Embora mais de mil empresas tenham reduzido suas atividades na Rússia desde que a guerra teve início, um número significativo ainda permanece. Entre essas, as empresas chinesas são as mais presentes, com outras dos EUA, Japão, Alemanha, França e Índia continuando a fazer negócios sem se intimidarem com o conflito.
Apesar dos desafios, algumas empresas de bens de consumo permanecem na Rússia, citando a dependência dos consumidores locais de seus produtos. Nomes como Mondelez International, PepsiCo, Auchan, Nestlé, Unilever, Reckitt e British American Tobacco mantêm suas operações, enquanto outras, como a Intesa Sanpaolo, enfrentam obstáculos burocráticos ao tentarem sair.
Por que isso importa?
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, mais de mil empresas ocidentais deixaram de operar em território russo, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral. São companhias que querem evitar o risco de desobedecer as sanções ocidentais, ou mesmo a reação negativa da opinião pública caso continuem a lucrar no mercado russo. O levantamento foi feito pela Universidade de Yale, nos EUA.
A debandada tem prejudicado o consumidor local, privado de produtos de setores diversos, como entretenimento, tecnologia, automobilístico, vestuário e geração de energia.
No setor de alimentação, o McDonald’s vendeu seu negócio no país a um empresário russo. Ao fim de 2021, a rede tinha 847 lojas no país. Diferente do que ocorre no resto do mundo, onde habitualmente atua no sistema de franquias, 84% das lojas russas eram operadas pela própria companhia. Somado ao faturamento na Ucrânia, a operação respondia por 9% da receita global da empresa.

Duas importantes cervejarias da Europa, a holandesa Heineken e a dinamarquesa Carlsberg, também anunciaram a venda dos seus negócios e a saída da Rússia.
Outra decisão que causou problemas foi o fim dos serviços das companhias de cartões de crédito Mastercard e Visa.
No setor de vestuário, quem anunciou a retirada do mercado russo foi a Levi’s, sob o argumento de que quaisquer considerações comerciais “são claramente secundárias em relação ao sofrimento humano experimentado por tantos”. Nike e Adidas também suspenderam todas as operações no mercado russo. A sueca Ikea, gigante do setor de móveis, é outra que decidiu deixar a Rússia em função da guerra.
Nas áreas de entretenimento e tecnologia, alguns gigantes também optaram por suspender as vendas de produtos e serviços no país de Vladimir Putin. A Netflix interrompeu seus serviços e cancelou todos os projetos e aquisições na Rússia, enquanto Warner, Disney e Sony adiaram os lançamentos de suas novas produções no país. Já a Apple excluiu os aplicativos das empresas estatais russas de mídia RT e Sputnik e disse que não mais venderá seus produtos, como iPhones e iPads, em território russo. Panasonic, Microsoft, Nokia, Ericsson e Samsung são outras que optaram por encerrar as operações no país.