Engenheiro norte-americano é acusado de tentar repassar segredos militares à Rússia

Acusado, que pode ser condenado à prisão perpétua, entregou segredos de jatos da força aérea a um agente do FBI que pensava ser um espião russo

Um engenheiro norte-americano que atuou por cerca de 40 anos em projetos de defesa nacional foi preso na quinta-feira (16), sob acusação de tentar passar informações confidenciais a alguém que ele pensava ser um espião russo. Uma operação do FBI (Serviço Federal de Investigação, da sigla em Inglês) usou um agente disfarçado e levou à prisão do acusado, segundo a rede Voice of America (VOA).

O engenheiro trabalhava para uma empresa não identificada do setor aeroespacial e foi demitido em 2018, após levar um pen drive a um espaço proibido e questionar se poderia possuir, simultaneamente, credenciais de segurança dos governos dos EUA e da Rússia.

Durante a investigação, John Murray Rowe Jr., de 63 anos, trocou mais de 300 e-mails com um agente do FBI disfarçado, que o abordou em março de 2020 fingindo ser um agente russo interessado em obter informações confidenciais. Ele compartilhou com o investigador informações sobre caças militares dos EUA.

“Se eu não conseguir um emprego aqui, irei trabalhar para a outra equipe”, disse Rowe, referindo-se à inteligência russa, segundo consta no processo judicial. O julgamento começou nesta sexta-feira (17), e a condenação pode levar à prisão perpétua.

Modelo de jato-caça F-35 da Lockheed Martin em treinamento no Estado de Idaho, em novembro de 2017 (Foto: Divulgação/Robert Sullivan)

Por que isso importa?

A tensão entre EUA e Rússia é significativa em assuntos militares e de segurança digital. Um dos focos de atrito é a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, reprovada pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e pela ONU (Organização das Nações Unidas). Para a comunidade internacional, a Crimeia é um território ucraniano sob ocupação russa.

A Rússia também é acusada de apoiar os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito de Donbass levou a uma aproximação entre Kiev e Washington, contestada por Moscou e que ajudou a aumentar o atrito entre as duas superpotências.

O conflito armado, que já matou mais de 13 mil pessoas, opõe Kiev às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que juntas compõem a região de Donbass e têm suporte militar russo. Entre as demandas dos grupos pró-Moscou estão maior autonomia das repúblicas autoinstituídas, de maioria étnica russa.

No campo da segurança cibernética, Washington e seus aliados acusam Moscou de patrocinar grupos hackers responsáveis por ciberataques contra governos e empresas ocidentais, bem como de semear desinformação online para abalar democracias e direcionar resultados eleitorais.

Em julho, o presidente norte-americano Joe Biden chegou a cobrar explicitamente uma ação de Moscou durante conversa telefônica com o líder russo Vladimir Putin. A conversa, porém, não surtiu efeito, e os casos de ações digitais maliciosas realizadas por grupos de hackers ligados ao Kremlin têm aumentado.

Mais recentemente, a Rússia foi excluída de uma reunião virtual de combate a crimes digitais organizada pelos Estados Unidos. Trinta países foram convidados para o evento, e Moscou ficou de fora. Na pauta, tópicos como uso de criptomoedas no pagamento de resgates virtuais e a legislação global de combate a ações do tipo ransomware.

O Kremlin também não foi convidado para a Cúpula Pela Democracia, um evento virtual organizado pelos Estados Unidos no início de dezembro. A China também ficou fora da cúpula, que entre as 110 nações convidadas teve o Brasil e a ilha autogovernada de Taiwan, que Beijing reivindica como parte de seu território. 

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