Após rompimento de barragem, escassez de água ameaça usina nuclear, alerta AIEA

Chefe da agência da ONU diz que situação é séria e preocupante e coloca em risco a capacidade de resfriamento dos reatores

A usina nuclear de Zaporizhzhya, no sul da Ucrânia, está novamente em perigo. Segundo Rafael Mariano Grossi, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o rompimento da barragem Kakhovka, na região ucraniana de Kherson, reduziu o nível de água nos reservatórios de resfriamento dos reatores, gerando “risco imediato” de uma tragédia. As informações são da agência Associated Press (AP).

“É uma situação grave porque você está limitado à água que tem lá”, disse Grossi. “Se houvesse uma quebra nos portões que contêm essa água ou algo assim, você realmente perderia toda a sua capacidade de resfriamento.”

Grossi se encontrou na terça-feira (13) com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em Kiev. Na sequência, viajaria a Zaporizhzhya para avaliar de perto a situação da maior usina da Europa, que no início da guerra passou a ser controlada pela Rússia e desde então é motivo de constante preocupação por parte da agência atômica da ONU (Organização das Nações Unidas). Porém, a visita, que aconteceria nesta quarta (14), foi adiada até que e situação na região seja mais segura.

Usina nuclear de Zaporizhzhya, na Ucrânia (Foto: Wiklimedia Commons)

Embora ainda esteja sob ocupação russa, a usina é controlada por funcionários ucranianos que seguem no local. Uma equipe da AIEA também está em Zaporizhzhya e será trocada tão logo Grossi visite as instalações.

Antes mesmo de vistoria a usina, porém, o chefe da AIEA antecipou que a “situação é séria” porque a quantidade de água disponível para resfriar os reatores da usina é “limitada”. Na futura visita, ouvirá dos gestores quais medidas estão sendo tomadas e “avaliará que tipo de perigo” existe no local. Segundo ele, cinco dos seis reatores da usina estão praticamente desligados, operando em níveis muito baixos. Já o sexto reator está funcionando em um nível mais alto.

Além do problema de escassez de água, mantém-se o risco de a usina ser atingida pelo fogo cruzado dos confrontos. “Existe combate ativo. Portanto, estamos preocupados que possa haver, quero dizer, obviamente, matematicamente, as possibilidades de disparos”, disse o diretor-geral da agência.

De positivo, ele destacou o fato de que a equipe presente na usina não viu sinais de armamento pesado sendo armazenado lá. Ele se manifestou em resposta às alegações de Kiev de Moscou poderia plantar explosivos nas instalações para eventualmente destruir o local.

“Não deve haver nenhum equipamento militar ou artilharia ou quantidade de munição, quantidade que possa comprometer a segurança da usina”, disse Grossi. “Não temos nenhuma indicação neste momento. Mas não poderia ser excluído.”

Barragem rompida

A barragem Kakhovka, que possui 30 metros de altura e 3,2 quilômetros de comprimento, faz parte de uma usina hidrelétrica e retém um grande reservatório no rio Dnipro. Durante os 15 meses de invasão russa na Ucrânia, essa represa tem sido uma fonte constante de tensão.

O colapso da barragem, no dia 6 de junho, levou a uma troca de acusações entre os governos russo e ucraniano, que se eximem de responsabilidade pelo ocorrido e culpam o outro lado. Já a inundação que resultou do rompimento gerou consequências ambientais e sociais. Casas e empresas foram inundadas à medida que a água fluía rio abaixo, levando à evacuação de milhares de habitantes de áreas afetadas.

Na sexta-feira (9), a agência Reuters afirmou que há evidências cada vez maiores de que uma explosão provocou o desastre. Tal alegação baseia-se em relatórios dos serviços de inteligência da Ucrânia e dos EUA e de dados sísmicos coletados pela Noruega. porém, ainda não há informações suficientes para estabelecer um responsável.

Em outubro do ano passado Zelensky alertou que a Rússia planejava explodir a barragem e projetou um “desastre de grande escala”. Ele acusou Moscou de plantar minas em Kakhovka com o objetivo de posteriormente responsabilizar Kiev pelas mortes e pelo desastre ecológico proveniente da inundação.

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