Desastre causado por rompimento de barragem gera troca de acusações entre Kiev e Moscou

Tragédia inundou aldeias e ameaça o abastecimento de água potável, enquanto os dois lados da guerra culpam um ao outro pela destruição

Nesta terça-feira (6), uma represa controlada pela Rússia, localizada perto da linha de frente da guerra em curso na Ucrânia, teve sua barragem danificada, e o alagamento causou enorme destruição. A barragem Kakhovka, na região de Kherson, fornece água potável para o sul do território ucraniano e a região da Crimeia, anexada ilegalmente por Moscou em 2014. As informações são da agência Associated Press.

Imagens capturadas por drones e inicialmente compartilhadas por blogueiros dos dois lados do conflito mostraram claramente a barragem rompida, com a água fluindo livremente rio abaixo. O incidente resultou na evacuação de 17 mil pessoas e trouxe ameaças iminentes para uma usina nuclear próxima.

Kakhovka, que possui 30 metros de altura e 3,2 quilômetros de comprimento, faz parte de uma usina hidrelétrica e retém um grande reservatório no rio Dnipro. Durante os 15 meses de invasão russa na Ucrânia, essa represa tem sido uma fonte constante de tensão.

Barragem de Kakhovka e a Usina Hidrelétrica de Kakhovska (Foto: WikiCommons)

As autoridades russas e ucranianas utilizaram termos como “desastre ecológico” e “ato terrorista” para descrever a violenta torrente de água resultante da barragem rompida, que começou a esvaziar um dos maiores reservatórios do mundo. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, classificou a situação como “o maior desastre ambiental causado pelo homem na Europa em décadas”.

Zelensky atribuiu a responsabilidade à Rússia pela ruptura, que resultou em extensas inundações. Ele também definiu o incidente como um “ecocídio” e expressou a necessidade de uma resposta global diante do ataque à barragem de Kakhovka,

“O mundo deve reagir”, disse o líder ucraniano no Twitter, acrescentando que Moscou realizou “uma explosão interna das estruturas” da usina às 2h50 (horário local). “A Rússia está em guerra com a vida, com a natureza, com a civilização”, acrescentou.

Em outubro do ano passado, Zelensky, alertou que a Rússia planejava explodir a barragem, acusando Moscou de plantar minas na represa da central hidroelétrica de Kakhovka. À época, ele observou que uma sabotagem no local potencialmente inundaria 80 cidades, incluindo Kherson, estrategicamente ocupada desde o início do conflito.

Alimentando um duelo de narrativas, o Kremlin acusou a Ucrânia de realizar uma “sabotagem deliberada” ao dar sua versão sobre o colapso da barragem de Kakhovka. O porta-voz Dmitry Peskov afirmou que as forças ucranianas danificaram intencionalmente a barragem depois de sofrerem supostas perdas iniciais em sua contraofensiva lançada há 48 horas.

Peskov também alertou sobre as possíveis “consequências muito graves” para dezenas de milhares de moradores, bem como consequências ambientais e de outras naturezas que ainda não foram totalmente avaliadas.

“O regime de Kiev deve assumir total responsabilidade por todas as consequências”, afirmou Peskov em uma coletiva de imprensa.

As razões por trás da destruição da barragem não ficaram imediatamente claras, e o colapso pode ter sido resultado de uma deterioração gradual ao longo do tempo. Tanto as áreas controladas pela Rússia quanto as áreas controladas pela Ucrânia estavam em perigo.

Catástrofe

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Antonio Guterres, durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança, referiu-se a esse evento como uma “catástrofe humanitária, econômica e ecológica de proporções monumentais”, destacando-o como “outra consequência devastadora da invasão russa da Ucrânia”.

Logo após o colapso da barragem, as consequências ambientais e sociais se tornaram evidentes. Casas, ruas e empresas foram inundadas à medida que a água fluía rio abaixo, resultando na evacuação realizada pelas equipes de emergência. Além disso, os funcionários começaram a monitorar atentamente o nível da água para os sistemas de resfriamento na usina nuclear de Zaporizhzhya, a maior da Europa.

“Se você não fornecer resfriamento, em uma hora e meia já terá derretido”, disse em agosto Petro Kotin, chefe da empresa de energia atômica da Ucrânia, referindo-se aos reatores da usina.

O órgão de vigilância nuclear da ONU, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afirmou que não há “nenhum risco imediato de segurança nuclear” em Zaporizhzhia, segundo detalhou matéria do jornal independente The Moscow Times.

Pelo Twitter, a AIEA declarou: “A AIEA está ciente dos relatos de danos na barragem de Kakhovka, na Ucrânia; especialistas da AIEA na usina nuclear de Zaporizhzhia estão monitorando de perto a situação; não há risco imediato de segurança nuclear na usina”.

A barragem danificada está localizada no rio Dnipro, que é responsável pelo fornecimento de água para o resfriamento da usina. Assim, as autoridades também expressaram preocupação com o abastecimento de água potável nas áreas controladas tanto pela Ucrânia quanto pela Rússia.

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