Espiões com vínculos russos são detidos em ampla investigação no Reino Unido

De nacionalidade búlgara, as três pessoas sob suspeita estavam portando passaportes de nove países distintos

Três indivíduos suspeitos de atuarem como espiões russos no Reino Unido foram detidos e acusados, como resultado de uma extensa investigação de segurança nacional, confirmou a Polícia Metropolitana nesta terça-feira (15). Eles possuíam passaportes de nove países diferentes. As informações são da rede BBC.

Os acusados, todos de nacionalidade búlgara, foram detidos em fevereiro e permanecem sob custódia desde então. Eles são: Orlin Roussev, 45 anos, Bizer Dzhambazov, 41 anos, e Katrin Ivanova, 31 anos. A suspeita das autoridades britânicas é de que o trio esteja envolvido com os serviços de inteligência do Kremlin.

As acusações estão centradas no fato de que eles portavam documentos de identificação com “intenção inadequada”, tendo conhecimento de que eram falsificados. A papelada engloba passaportes, carteiras de identidade e outros registros relacionados ao Reino Unido, Bulgária, França, Itália, Espanha, Croácia, Eslovênia, Grécia e República Tcheca.

Os três acusados foram detidos sob a Lei de Segredos Oficiais por agentes antiterrorismo da Polícia Metropolitana, a qual tem a responsabilidade de supervisionar a aplicação da lei em âmbito nacional em casos de espionagem.

Da esquerda para a direita: Dzhambazov, Ivanova e Roussev (Foto: Redes sociais/Reprodução)
A vida no Reino Unido

Há anos, os três residem no Reino Unido, onde desempenham diversos trabalhos e habitam várias propriedades suburbanas.

Roussev tem experiência empresarial na Rússia. Mudou-se para o Reino Unido em 2009, trabalhando por três anos em serviços financeiros. Em seu LinkedIn, afirma ser ex-proprietário de empresa de inteligência de sinais, envolvendo comunicações eletrônicas. Também atuou como consultor do Ministério da Energia búlgaro, morando em Great Yarmouth à beira-mar.

Em Harrow, ex-vizinhos descrevem Dzhambazov e Ivanova como um casal. Dzhambazov é motorista hospitalar, enquanto Ivanova é assistente de laboratório em uma empresa de saúde privada, segundo seu perfil no LinkedIn. Há cerca de dez anos, eles fundaram uma organização para a comunidade búlgara no Reino Unido, ajudando na assimilação da “cultura e normas da sociedade britânica”.

Segundo registros governamentais búlgaros acessíveis online, eles também trabalharam com comissões eleitorais em Londres, tornando mais acessível a votação nas eleições do seu país de origem para cidadãos no exterior.

Combate à espionagem russa

As atividades de espionagem russas na Europa sofreram um duro golpe nos últimos anos. Episódios como o envenenamento do ex-agente russo Sergei Skripal, no Reino Unido, levaram as nações do continente a fecharem o cerco contra Moscou, repressão que aumentou ainda mais com a guerra na Ucrânia.

Centenas de diplomatas russos foram expulsos de países europeus sob a acusação de que vinham atuando como espiões disfarçados. Ken McCallum, diretor do MI5, o serviço de inteligência doméstica britânica, calculou em novembro do ano passado que mais de 600 russos foram obrigados a deixar países europeus nessas condições.

“Isso foi o golpe estratégico mais significativo contra os serviços de inteligência russos na história recente da Europa”, disse McCallum na ocasião. “E, junto com ondas coordenadas de sanções, a escalada pegou (o presidente russo Vladimir) Putin de surpresa.”

Somente no Reino Unido, mais de cem pedidos de vistos diplomáticos feitos por Moscou foram rejeitados desde 2018, quando o Skripal e a filha dele, Yulia, foram envenenados em Salisbury, sul da Inglaterra. A inteligência russa foi acusada de coordenar a ação, embora Moscou até hoje negue envolvimento.

assassinato do homem (a filha sobreviveu) comprometeu as relações diplomáticas entre os governos britânico e russo e levou à primeira onda de expulsões de diplomatas suspeitos de atuarem como espiões. De lá para cá, diversos países europeus também detectaram membros do corpo diplomático russo que exerciam atividades incompatíveis com suas funções e igualmente os forçaram a ir embora.

Outro país que iniciou uma dura campanha de combate à espionagem russa foi a Alemanha, que no ano passado registrou um aumento considerável das atividades de inteligência de Moscou no país. Nesse sentido, relatório divulgado pelo Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), o serviço de inteligência doméstico, destaca as campanhas de desinformação como principal arma russa em solo alemão, embora atos de sabotagem também estejam em alta.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco e ajuda a explicar o interesse de Moscou pelo país. De acordo com Thomas Haldenwang, que chefia o BfV, há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas.

Nos últimos anos, para conter o problema, o governo alemão também expulsou dezenas de supostos diplomata russos acusados de atuarem como espiões disfarçados. No final de maio deste ano, Berlim ainda anunciou que quatro dos cinco consulados da Rússia no país teriam suas licenças revogadas, sendo, portanto, fechados.

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