Estado Islâmico assume autoria de ataque que matou dois cidadãos suecos na Bélgica

Atirador gravou vídeo no qual diz que agiu em resposta aos protestos em que cópias do Alcorão foram queimadas na Suécia

O Estado Islâmico (EI) usou seu canal no Telegram para reivindicar a autoria do ataque terrorista que deixou dois cidadãos suecos mortos na segunda-feira (16) em Bruxelas, na Bélgica. As informações são da agência Reuters.

O autor do atentado, um tunisiano que vivia ilegalmente na Bélgica após ter seu pedido de asilo negado, chegou a gravar um vídeo antes do ataque. Ele se identificou como Abdesalem Al Guilani e disse ter se inspirado no EI, que agora oficializou a relação.

Segundo autoridades, nas imagens ele diz também que foi motivado a atacar cidadãos suecos devido aos recentes protestos ocorridos na Suécia nos quais cópias do Alcorão foram queimadas. No vídeo, o terrorista diz que o livro sagrado é “uma linha vermelha” pela qual estaria “pronto para se sacrificar.”

Terrorista gravou um vídeo antes do ataque em Bruxelas (Foto: reprodução de vídeo)

O ataque de segunda foi filmado, com diversos vídeos circulando na internet. Eles mostram um indivíduo vestindo blusa laranja e portando um rifle, que desce de uma moto e dispara algumas vezes. Depois, ele segue algumas pessoas para dentro de um prédio e faz novos disparos.

Os suecos estavam em Bruxelas para um jogo de futebol entre Bélgica e Suécia válido pelas Eliminatórias da Eurocopa 2024, o campeonato europeu da modalidade. A partida foi suspensa no intervalo, quando os atleta das duas seleções tomaram conhecimento do ataque e optaram por não voltar ao gramado.

Três vítimas foram confirmadas, duas delas fatais. Uma terceira foi ferida, levada ao hospital e está fora de risco. O terrorista conseguiu fugir, dando início a uma caçada humana. Na terça (17), ele foi identificado por uma pessoa que alertou as autoridades. Cercado, foi morto pelas forças de segurança belgas.

Por que isso importa?

O EI passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.

De acordo com relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o EI “continua a comandar entre cinco mil e sete mil membros em todo o Iraque e na República Árabe da Síria, a maioria dos quais combatentes.” No entanto, “adotou deliberadamente uma estratégia para reduzir os ataques, a fim de facilitar o recrutamento e a reorganização.”

Atualmente, a maioria dos líderes do EI permanece no noroeste da Síria, mas “o grupo realocou algumas figuras-chave para outros lugares.” Um continente de forte presença da organização é a África, com afiliados locais representando uma ameaça constante aos governos da região.

Um desses afiliados é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali e, em menor escala, em Burkina Faso e no Níger. Recentemente, tem feito esforços para estabelecer “um corredor para a Nigéria para fins logísticos, de abastecimento e recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).

A avaliação da equipe de monitoramento da ONU, entregue ao Conselho de Segurança no final de julho, surge em meio a mais um momento crucial da luta contra o terrorismo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo.

O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.

“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz o relatório, citando a África como uma região de particular preocupação.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista Veja mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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