Governo italiano cogita deixar a Nova Rota da Seda sem perder os laços com a China

Roma está entre a cruz e a espada: Ficar com a China ou escolher os Estados Unidos? O governo Giorgia Meloni ainda não se decidiu

A Itália está inclinada a não renovar com a China a adesão sancionada em 2019 à iniciativa Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative). Mas, embora o governo de Giorgia Meloni esteja planejando negociações sobre uma possível retirada do programa do presidente Xi Jinping para financiar obras de infraestrutura no exterior, ao mesmo tempo sabe da necessidade de manter laços comerciais amigáveis ​​e fortes. As informações são da agência Reuters.

A Itália é o único país do G7 a ter assinado um memorando com o governo chinês para participar do projeto de conexão eurasiana lançado em 2013 por Xi, o que causou desgosto a Washington e à União Europeia (UE). Durante a campanha que a levou ao governo do país no ano passado, Giorgia chegou a classificar a parceria como “um erro”.

De Praga, a primeira-ministra italiana declarou na quarta-feira (10) estar indecisa e que ainda não bateu o martelo sobre se encerrará ou não a participação do seu país no programa. “O debate está aberto”, disse ela.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, durante encontro com o presidente chinês Xi Jinping em Bali, no ano passado (Foto: Minister of Foreign Affairs of the People’s Republic of China/Divulgação)

Na semana passada, a líder italiana disse ao presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy, que, embora uma decisão definitiva ainda não tenha sido tomada, o governo é favorável à quebra do acordo firmado durante a gestão de seu antecessor, Giuseppe Conte, e apoiado por uma maioria composta pelo Movimento 5 Estrelas e pela Liga.

“Ainda faltam vários meses para tomar esta decisão, que é delicada. No passado não compartilhei da escolha feita pelo governo Conte, mas hoje ela deve ser tratada com muito cuidado porque é uma situação que afeta muitas dinâmicas internacionais”, disse Giorgia.

O governo italiano sabe que há um outro lado da moeda em interromper a colaboração com os chineses para tranquilizar os aliados. Por isso, as autoridades em Roma desejam encontrar uma maneira de deixar o BRI sem causar um mal-estar com Beijing ou se submeter a retaliações econômicas.

“Queremos manter boas relações com eles e trabalhar para evitar que os problemas se agravem”, disse um funcionário do governo italiano, acrescentando que Roma não deseja “antagonizar” a China.

Na visão de Stefano Stefanini, ex-embaixador da Itália na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), dado o estado das relações entre os EUA e a China, Roma não pode conciliar uma aliança com Washington e permanecer na BRI.

“Temos que tentar negociar uma saída pacífica. Ou a menos prejudicial possível”, disse ele.

Pelo fato da ultradireitista presidente italiana ter solidificado seu apoio à Ucrânia, a pressão dos EUA tem sido mais amena. O fato de Roma ter canal aberto com Beijing também é visto com bons olhos, já que pode ser útil para instar o país asiático, que é um aliado incondicional de Moscou, a pressionar pelo fim do conflito na Ucrânia.

Da China, o Ministério das Relações Exteriores disse acreditar que a Itália “deve continuar a aproveitar o potencial para a cooperação da Nova Rota da Seda” de modo que “os frutos do desenvolvimento da relação China-Itália beneficiem os dois países”.

Investimentos em baixa

Segundo dados do Green Finance and Development Center da Fudan University, os investimentos relacionados à BRI na Itália caíram de US$ 2,51 bilhões em 2019 para US$ 810 milhões em 2020, repercutiu o jornal online Tag43.

De forma mais geral, destacou o Rhodium Group, o investimento direto (IED) na Itália caiu de US$ 650 milhões em 2019 para US$ 20 milhões em 2020 e US$ 33 milhões em 2021. Pouco, se comparado com o US$ 1,9 bilhão de IED chinês na Alemanha e US$ 1,8 bilhão na França em 2020.

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