Ilhas Canárias espanholas veem aumento sem precedentes de migrantes, principalmente do Senegal

Autoridades locais relatam que quase 32 mil migrantes chegaram ao arquipélago neste ano, fluxo que ultrapassou o recorde de 2006

Em 2023, um número recorde de migrantes colocou a vida em jogo na perigosa travessia marítima pelo Oceano Atlântico para alcançar as Ilhas Canárias espanholas. E a grande maioria, cerca de 32 mil pessoas, saiu do Senegal em busca de novas oportunidades. Além de senegaleses, cidadãos de países como Mauritânia, Marrocos e Saara Ocidental também fazem a travessia, segundo reportagem da agência Associated Press.

Os números oficiais, divulgados pelo Ministério do Interior espanhol e pelos serviços de emergência locais, revelam que pelo menos 32.029 pessoas desembarcaram nas Ilhas Canárias entre 1° de janeiro e 5 de novembro deste ano. O número ultrapassa a crise migratória de 2006, quando 31.678 migrantes chegaram à comunidade autônoma espanhola.

Tudo geralmente tem início com a ação de contrabandistas no país africano, que atraem jovens em busca de perspectivas europeias promissoras e os colocam em antiquadas embarcações de pesca artesanal, com uma tarifa que gira em torno de 300 mil francos CFA (cerca de R$ 2,4 mil) por pessoa.

A travessia desde o Senegal até as Ilhas Canárias frequentemente envolve uma cansativa jornada de uma semana, enfrentando ventos desfavoráveis ao longo de aproximadamente 1.600 km.

Migrantes chegando às Ilhas Canárias espanholas (Foto: Noborder Network/Flickr)
Perigo

As Ilhas Canárias, situadas na costa da África Ocidental, têm servido como ponto de partida para migrantes em busca de uma vida melhor na Europa há várias décadas. Só que o arquipélago também tem sido frequentemente cenário de tragédias, em vez de simbólicos recomeços.

Em meio a esse cenário, no último fim de semana, a Guarda Costeira espanhola informou que 739 migrantes foram resgatados no Oceano Atlântico, ao largo da costa de El Hierro, que está localizada aproximadamente a 370 quilômetros do Saara Ocidental, segundo informações da Fox News. El Hierro é a ilha mais remota e menor do arquipélago das Ilhas Canárias.

A Guarda Civil espanhola informou que, entre os migrantes resgatados, dois faleceram diretamente e outros dois não resistiram após serem hospitalizados, incluindo mulheres e crianças.

Fernando Clavijo, chefe Rregional das Ilhas Canárias, detalhou à Reuters a dimensão de uma crise humanitária crescente nas ilhas, instando o governo espanhol e a União Europeia (UE) a fornecerem assistência.

Ele ressaltou que, embora os números tenham ultrapassado os registros de 2006, a resposta das autoridades espanholas e europeias não foi à altura da situação. Clavijo enfatizou a necessidade de priorizar a gestão da migração na fronteira sul tanto na agenda espanhola quanto europeia.

Entre as explicações para o aumento significativo nas chegadas estão as condições marítimas mais tranquilas devido ao clima mais ameno em setembro, tornando a travessia de África para as ilhas uma opção viável.

Para lidar com a crise, o governo espanhol anunciou a criação de mais acomodações de emergência para cerca de 3 mil migrantes em quartéis militares, hotéis e albergues.

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