IPI registra mais de 350 ataques à liberdade de imprensa em meio à guerra na Ucrânia

Instituto Internacional de Imprensa listou violações como censura, fechamento de veículos e até mortes de profissionais no cumprimento do dever

Levantamento feito pelo Instituto Internacional de Imprensa (IPI, da sigla em inglês) registrou 356 ataques a jornalistas, atos de censura e graves violações da liberdade de imprensa desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, no dia 24 de fevereiro. O estudo foi publicado na segunda-feira (2) no site da IPI.

As informações vieram à tona um dia antes do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado nesta terça (3). Os dados ilustram os impactos da guerra causados no jornalismo independente, na liberdade de mídia e na segurança dos jornalistas nos dois países envolvidos.

A estatística mais preocupante até o momento é a de que sete jornalistas e profissionais de mídia perderam a vida no cumprimento do dever, segundo apurou o Ukraine War Press Freedom Tracker, rastreador do IPI que monitora o trabalho da imprensa durante o conflito. Além das vítimas contabilizadas, há evidências de que pelo menos mais dois profissionais podem ter sido mortos pelo exército russo por conta de suposta conexão com a atividade profissional.

IPI registra mais de 350 ataques à liberdade de imprensa em meio à guerra na Ucrânia
Jornalista registra eventos na Praça da Independência durante violentos confrontos em Kiev em 2014 (Foto: Wikimedia Commons)

Outro dado alarmante é o registro de 33 casos de jornalistas que atuam na cobertura do front, entre eles ucranianos e estrangeiros, que foram atacados, baleados ou feridos em bombardeios, muitos indo parar no hospital gravemente feridos. Uma das vítimas foi Oksana Baulina, que trabalhou para a Fundação Anticorrupção (FBK) do líder da oposição russa Alexei Navalny. Ela morreu em Kiev enquanto filmava a destruição causada por uma bomba.

Segundo o IPI, desse número, 21 foram feridos a bala e pelo menos 12 membros de equipes de reportagem acabaram sendo agredidos ou estiveram no alvo de bombardeios e outros ataques aéreos.

Casos de sequestro, tortura, agressão física e outros abusos de direitos humanos também foram apurados: pelo menos cinco profissionais de imprensa sofreram esses tipos de violência pelas mãos de soldados russos, diz o relatório.

Além das violações à vida humana, equipamento e suporte técnico também foram prejudicados. O IPI documentou quatro ataques a torres de TV e infraestrutura na Ucrânia. Nessa atmosfera, dezenas de meios de comunicação regionais foram forçados a fechar por conta de ameaças e apreensões dentro de redações.

No geral, as autoridades estatais russas e as forças militares foram responsáveis ​​por 76% de todas as violações da liberdade de imprensa relacionadas ao conflito documentadas pelo IPI nos últimos três meses.

Imprensa russa também sofre

Na Rússia, onde a imprensa teve que adotar o eufemismo definido por Vladimir Putin como “operação militar especial” em vez da palavra “guerra”, o Roskomnadzor, órgão regulador de internet e dos meios de comunicação, bloqueou pelo menos 114 sites de mídia e notícias. O número representa 32% de todas as violações registradas no Ukraine War Press Freedom Tracker.

Pelo menos dez grandes emissoras ou publicações foram fechadas ou forçadas a cessar as operações, entre elas a Novaya Gazeta, um dos tradicionais pilares de resistência da imprensa livre, que jogou temporariamente a toalha e decidiu suspender as atividades na Rússia. Pelo menos até que as ofensivas em solo ucraniano cessem, segundo a direção. 

O IPI também fala em 49 prisões de jornalistas durante cobertura de protestos contra a guerra em cidades de todo o país desde fevereiro. Muitos foram presos mesmo mediante apresentação de registro profissional.

Pelo menos 11 jornalistas foram multados ou detidos sob uma nova lei restritiva que criminaliza o que as autoridades consideram fake news sobre as forças armadas – a nova lei assinada no início de março impõe duras punições àqueles que divulgarem notícias sobre a guerra consideradas “falsas” pelo governo russo. Além disso, centenas de jornalistas russos teriam fugido do país temendo ser processados.

Dezenas de meios de comunicação estrangeiros também foram forçados a fechar seus escritórios e retirar seus correspondentes do país, contribuindo para o apagão da cobertura imparcial e deixando os cidadãos cada vez mais isolados e expostos à propaganda pró-Kremlin.

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