Jornalista que protestou ao vivo na TV russa recebe prêmio internacional

Marina Ovsyannikova surgiu atrás da apresentadora de um telejornal da TV estatal russa com cartaz contestando a guerra

A jornalista russa Marina Ovsyannikova, que ficou conhecida no mundo todo por interromper um noticiário na TV estatal russa Canal 1 (Piervy Kanal) para protestar contra a invasão na Ucrânia, recebeu na quarta-feira (25) o Prêmio Internacional Vaclav Havel de Dissidência Criativa. As informações são da rede Radio Free Europe.

A premiação foi concedida em cerimônia realizada em Oslo, na Noruega, como ocorre anualmente. Os premiados são “aqueles que, com bravura e engenhosidade, desmascaram as mentiras da ditadura e que realizam um trabalho que exemplifica uma tremenda coragem e criatividade”.

Ovsyannikova no momento de seu protesto ao vivo durante telejornal (Foto: Piervy Kanal/Captura de tela)

No dia 14 de março, Ovsyannikova se postou repentinamente atrás de uma apresentadora de telejornal segurando um cartaz escrito em russo e inglês que dizia: “Não à guerra, não acredite na propaganda. Eles estão mentindo para você”. Ela ficou no ar durante alguns segundos até que o canal a tirasse de cena.

No dia seguinte ao protesto, a Justiça russa condenou a jornalista a pagar uma multa de 30 mil rublos (cerca de R$ 2,23 mil, no câmbio atual) por “tentativa de organizar um protesto não autorizado”. Mais tarde, ela anunciou que havia pedido demissão.

Indiciada por uma nova lei que pune a disseminação de “notícias falsas” sobre a ação militar coordenada pelo Kremlin em território ucraniano, a jornalista disse anteriormente que não pretende sair do país e que recusou uma oferta de asilo da França.

Mais tarde, em abril, o jornal alemão Die Welt anunciou a contratação de Ovsyannikova. Ela agora atua como correspondente freelancer, reportando da Ucrânia e da Rússia. Além de escrever regularmente, ela participa dos programa do canal de TV do jornal.

Por que isso importa?

Na Rússia, protestar contra o governo já não era uma tarefa fácil antes da eclosão da guerra na Ucrânia. Os protestos coletivos desapareceram das ruas da Rússia desde que o governo passou a usar a pandemia de Covid-19 como argumento para punir grandes manifestações, sob a alegação de que o acúmulo de pessoas fere as normas sanitárias. Assim, tornou-se comum ver pessoas solitárias erguendo cartazes com frases contra o governo.

Desde a invasão do país vizinho por tropas russas, no dia 24 de fevereiro, o desafio dos opositores do presidente Vladimir Putin aumentou consideravelmente, com novos mecanismos legais à disposição do Estado e o aumento da violência policial para silenciar os críticos. Uma lei do início de março, com foco na guerra, pune quem “desacredita o uso das forças armadas”.

Dentro dessa severa nova legislação, os detidos têm que pagar multas que chegam a 300 mil rublos (R$ 16,9 mil). A pena mais rigorosa é aplicada por divulgar “informações sabidamente falsas” sobre o exército e a “operação militar especial” na Ucrânia, que é como o governo descreve a guerra. A reclusão pode chegar a 15 anos.

Artista russa é presa por protestar contra a guerra nas etiquetas de preços
Jovem russa exibe cartaz com a frase “não matarás” em protesto antiguerra (Foto: reprodução/Twitter)

Apesar dos riscos, muitos russos enfrentam a repressão e a possibilidade de serem presos e protestam de diversas maneiras para deixar clara sua oposição ao conflito.

Em Moscou, no dia 15 de março, ignorando todos esses riscos, uma mulher escolheu como ponto de protesto a Catedral do Cristo Salvador. Em um cartaz, reproduziu o sexto mandamento segundo a Igreja Ortodoxa: “Não matarás”. Outra mulher desafiou a censura e se posicionou em uma esquina próxima do Kremlin com um cartaz que dizia “Não à guerra”. Ambas foram retiradas por policiais e colocadas em um camburão menos de dez minutos depois de exibirem os cartazes.

Yevgenia Isayeva, uma artista e ativista da cidade russa de São Petesburgo, optou por um protesto mais gráfico no dia 27 de março. Com um vestido branco, ela se posicionou em frente à prefeitura da cidade e, então, despejou tinta vermelha sobre a roupa, enquanto dizia repetidamente: “Meu coração sangra, meu coração sangra…”. Também teve poucos minutos para se manifestar antes de ser retirada à força.

Há, ainda, os manifestantes que querem deixar sua mensagens sem expor a própria imagem. Casos dos grafiteiros que têm feito surgir nos muros de cidades russas mensagens antiguerra. Também em 27 de março, dois homens foram presos na cidade de Tula, no sul do país, acusados de grafitar mensagens como “Derrubem Putin” e “Parem Putin”.

A jornalista russa Marina Ovsyannikova, por sua vez, ficou conhecida mundialmente por interromper um noticiário na TV estatal russa Canal 1 (Piervy Kanal) para protestar contra a invasão da Ucrânia. No dia 14 de março, ela se postou repentinamente atrás da apresentadora de um telejornal com um cartaz escrito em russo e inglês que dizia “Não à guerra, não acredite na propaganda. Eles estão mentindo para você”. Ela ficou no ar durante vários segundos até que o canal a tirasse de cena.

No dia seguinte ao protesto, a Justiça russa condenou a jornalista a pagar também uma multa de 30 mil rublos (cerca de R$ 1,69 mil), justificando de se tratar de uma “tentativa de organizar um protesto não autorizado”. Ovsyannikova diz que pediu demissão e que não pretende sair do país, alegando ter recusado uma oferta de asilo da França. Em abril, ela foi contratada como correspondente freelancer do jornal alemão Die Welt.

Coletivamente, um jeito diferente de protestar tem sido através de mensagens escritas em cédulas e moedas de rublos. O fenômeno passou a ser compartilhado em plataformas como Twitter, Telegram e Reddit. As mensagens são normalmente escritas à mão, sendo as frases mais comuns “não à guerra” e “russos contra a guerra”.

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