Nesta quarta-feira (2), a Justiça da Rússia confirmou a sentença de 22 anos de prisão do jornalista Ivan Safronov por traição, informou um grupo de apoiadores. Trata-se do primeiro profissional de imprensa condenado por tal crime no país desde 2001. As informações são do jornal independente The Moscow Times.
Safronov foi acusado de repassar às inteligências da República Tcheca e da Alemanha dados sobre a venda de armas pelo governo russo na África e no Oriente Médio. A Justiça alega que ele teria recebido em troca dos tais segredos militares US$ 248 (cerca de R$ 1,25 mil, em valores atuais), acusações que o réu diz serem politicamente motivadas.
O jornalista, que por muito tempo trabalhou na cobertura de assuntos de segurança, perdeu definitivamente seu recurso em uma audiência a portas fechadas na Suprema Corte, conforme informou o grupo FreeSafronov! pelo aplicativo de mensagens Telegram. Ele não esteve presente na audiência, nem pessoalmente nem por vídeo, sem explicação aparente.
Desde o início de 2023, Safronov está cumprindo pena em uma prisão de segurança máxima na Sibéria. Tanto ele como seus apoiadores negam veementemente as acusações de traição, afirmando que o processo criminal é uma retaliação por sua reportagem sobre a venda de caças da Rússia ao Egito, que gerou um escândalo diplomático.
Em sua defesa, Safronov disse repetidamente que foi julgado e condenado pelos simples fato de ter feito um bom trabalho jornalístico. As autoridades russas, por sua vez, insistem que o caso não tem qualquer relação com suas atividades como repórter.
Em 2020, Safronov foi listado pelo principal grupo russo de direitos humanos, Memorial, como prisioneiro político.
Este é o primeiro caso de traição envolvendo um jornalista russo em mais de 20 anos, desde que o jornalista militar Grigory Pasko foi condenado a quatro anos de prisão por expor o despejo de lixo nuclear pela Marinha russa.
A gravidade da situação fica evidente pelo fato de dois advogados de Safronov terem fugido da Rússia devido a ameaças de processo criminal, enquanto um terceiro defensor foi preso sob a acusação de espalhar “notícias falsas” sobre os militares russos.