Jornalistas que denunciaram abusos do governo vão a julgamento em Belarus

Duas das acusadas estão presas desde maio de 2021, enquanto os outros três deixaram o país antes do início do julgamento

Teve início nesta segunda-feira (9) o julgamento de cinco jornalistas do que já foi o maior veículo de comunicação independente de Belarus, o Tut.by. Entre as acusações que pesam contra o grupo estão as de sonegação de impostos e “incitação à inimizade”, segundo o jornal The Moscow Times.

Duas das acusadas, a editora-chefe Marina Zolotova e a diretora-geral Lyudmila Chekina, estão presas desde maio de 2021. Os outros três réus conseguiram fugir do país e serão julgados à revelia.

O Tut.by foi um dos veículos de mídia mais atuantes na cobertura dos protestos populares que ocorreram em Belarus após a eleição do presidente Alexander Lukashenko em 2020. Observadores internacionais e opositores alegam que o pleito foi fraudado para garantir um sexto mandato consecutivo ao autoritário líder.

Jornalistas presas por contestar o governo em Belarus (Foto: Sviatlana Tsikhanouskaya/reprodução Twitter)

Svetlana Tikhanovskaya, líder da oposição belarussa e candidata derrotada naquela eleição, postou uma foto das duas acusadas no tribunal. “Hoje, o julgamento político contra o portal de mídia Tut.by começa em Minsk. Em 2021, o regime deteve 14 funcionários do Tut.by. Maryna Zolatava e Ludmila Chekina já estão detidas há 19 meses. Devemos apoiar todos os jornalistas que lutam pela verdade!”, disse ela no Twitter.

Por expor os abusos do governo, o site jornalístico foi considerado extremista em 2021, e alguns de seus funcionários deixaram o país para trabalhar no exterior a serviço do Zerkalo, uma publicação que sucedeu o extinto Tut.by.

Sobre o julgamento, o Zerkalo afirmou que as acusações contra os cinco profissionais de imprensa “foram fabricadas do começo ao fim e apareceram apenas porque o regime tem medo de jornalistas”.

Por que isso importa?

Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições no ano passado.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição de 2020, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente, Natalya Eismont, chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Desde que os protestos começaram, após o controverso pleito, as autoridades do país têm sufocado ONGs e a mídia independente, parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. Ativistas de direitos humanos dizem que mais de 800 pessoas são atualmente prisioneiros políticos no país.

O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como ele lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.

O distanciamento entre o país e o Ocidente aumentou com a guerra na Ucrânia, vez que Belarus é aliado da Rússia e permitiu que tropas de Moscou usassem o território belarusso para realizar a invasão.

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