Justiça de Belarus condena jornalista à prisão por ‘criar grupo extremista’

Condenação de Iryna Slaunikava está relacionada à presença dela nos protestos contra o presidente belarusso em 2020

A Justiça de Belarus condenou nesta quarta-feira (3) a jornalista Iryna Slaunikava, que trabalha para a emissora de televisão via satélite Belsat, a cinco anos de prisão. Ela foi formalmente acusada de “organizar ou participar de graves violações da ordem pública” e de “criar um grupo extremista”.

A condenação da profissional levou a uma manifestação de repúdio da ONG Comitê Para a Proteção dos Jornalistas. “A sentença de hoje da jornalista Iryna Slaunikava a cinco anos de prisão é outro exemplo da natureza profundamente cínica e vingativa do governo belarusso”, disse Carlos Martinez de la Serna, diretor da entidade. “A caça às bruxas das autoridades contra os jornalistas que cobriram os protestos contra o governo em 2020 deve parar imediatamente”.

Slaunikava, que está detida desde outubro de 2021, é a segunda profissional do canal julgada e condenada. Ela esteve presente nos protestos de 2020 que pediram a saída do presidente Alexander Lukashenko. Antes, Katsiaryna Andreyeva, também jornalista da Belsat, foi considerada culpada de “traição”.

A própria emissora para a qual a jornalista trabalha, que faz transmissões em belarusso e é financiada pelo governo polonês, entrou na mira da Justiça de Belarus. A Belsat, que está ativa desde 2007, foi recentemente listada por Minsk como uma “organização extremista”.

Iryna Slaunikava, jornalista condenada a cinco anos de prisão em Belarus (Foto: reprodução/Twitter)
Por que isso importa?

Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições de 2020.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente, Natalya Eismont, chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Desde que os protestos começaram, após o controverso pleito, as autoridades do país têm sufocado ONGs e a mídia independente, como parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. Ativistas de direitos humanos dizem que há atualmente mais de 800 prisioneiros políticos no país.

O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como Lukashenko lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.

No final de 2021, Belarus passou a sofrer acusações também da União Europeia (UE), por patrocinar a tentativa de migrantes e deslocados ingressarem no bloco. São expatriados do Oriente Médio, do Sudeste Asiático e da África que tentam cruzar as fronteiras com Polônia, Lituânia e Estônia.

As autoridades belarussas negam as acusações e direcionam ataques à UE, usando como argumento o fato de que Bruxelas não estaria oferecendo passagem segura aos migrantes, que estariam enfrentando um frio congelante enquanto os países medem forças.

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