KGB de Belarus realiza megaoperação e prende dezenas de críticos do regime

Ao menos 64 pessoas foram detidas, aumentando o número de vítimas da repressão no país europeu campeão de presos políticos

Uma megaoperação realizada pela KGB de Belarus deteve na terça-feira (23) mais de 80 pessoas acusadas de “envolvimento com grupos extremistas” e “financiamento de atividades extremistas”, crimes que são geralmente imputados aos críticos do regime de Alexander Lukashenko. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

De acordo com o grupo de direitos humanos Viasna, 84 pessoas foram presas, sendo que algumas delas foram libertadas após as autoridades realizarem buscas nas residências dos detidos.

Entre as vítimas estão familiares de presos políticos e de ex-presos políticos belarussos, que mesmo sob a mira das forças de segurança optaram por permanecer no país. Indivíduos que já haviam cumprido pena por terem se posicionado contra o ditador e estavam em liberdade também foram detidos novamente.

Lukashenko entre as bandeiras de Belarus e Rússia (Foto: kremlin.ru/WikiCommons)

Em recente reportagem, o jornal britânico Independent afirmou que existem atualmente cerca de 1,5 mil presos políticos no país, o que faz de Belarus a nação europeia que mais detém dissidentes. E os números reais tendem a ser ainda maiores, com alguns relatos sugerindo que são na verdade cinco mil as vítimas da repressão atualmente encarceradas.

Um dos presos políticos é o ativista belarusso Ales Bialiatski, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2022. Ele foi condenado a dez anos de prisão por “falta de pagamento de impostos”, “contrabando” e “financiamento de protestos”. Até novembro de 2022, estava preso sem sequer ter sido alvo de uma acusação formal.

Na terça, uma das vítimas da operação da KGB foi Maryna Adamovich, esposa de Mikalai Statkevich, condenado a 14 anos de prisão. Ela foi levada pelos agentes e recebeu uma sentença de 15 dias de prisão, o que levou a uma manifestação de repúdio da líder democrática exilada Sviatlana Tsikhanouskaya, que se manifestou pela rede social X, antigo Twitter.

“A chocante detenção de ontem e a subsequente sentença de 15 dias proferida a Maryna Adamovich, esposa do político preso Mikalai Statkevich, são um lembrete claro das táticas implacáveis ​​do regime. Quase cem indivíduos foram alvo de buscas e prisões em massa em Belarus”, disse Tsikhanouskaya.

Por que isso importa?

Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição de 2020, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente, Natalya Eismont, chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Desde que os protestos populares tomaram as ruas do país após o controverso pleito, as autoridades belarussas têm sufocado ONGs e a mídia independente, parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação.

O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como ele lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.

A violenta repressão imposta por Lukashenko levou muitos oposicionistas a deixarem o país. Aqueles que não fugiram são perseguidos pelas autoridades e invariavelmente presos. É o caso de Sergei Tikhanovsky, que cumpre uma pena de quase 20 anos de prisão sob acusações consideradas politicamente motivadas. Ele é marido de Sviatlana Tsikhanouskaia, candidata derrotada na eleição presidencial e hoje exilada.

Já o distanciamento entre o país e o Ocidente aumentou com a guerra na Ucrânia, vez que Belarus é aliada da Rússia e permitiu que tropas de Moscou usassem o território belarusso para realizar a invasão.

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