Kiev fala em crime de guerra em ataque russo que matou 50 prisioneiros de guerra ucranianos

Imagens de satélite sugerem que Olenivka, complexo prisional comandado por Moscou, teve sepulturas cavadas dias antes da explosão

Após uma explosão na prisão de Olenivka, na última sexta-feira (29), ter matado pelo menos 50 prisioneiros de guerra ucranianos, incluindo combatentes do Batalhão Azov que se renderam às forças russas na siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, pouco se sabe sobre o que aconteceu. As informações são do jornal The New York Times.

Os detalhes são contestados tanto por Moscou quanto Kiev. Para dificultar, nenhum investigador independente foi autorizado a entrar e averiguar o local, que fica próximo à cidade de Olenivka, em território controlado pela Rússia em Donbass. Em meio a isso, autoridades ucranianas disseram nesta quarta-feira (3) que estão coletando evidências de que o episódio teria sido um crime de guerra cometido pelas tropas de Vladimir Putin.

O principal indício que sustenta a desconfiança ucraniana foi revelado por altos funcionários do governo, que falaram sob condição de anonimato. De acordo com eles, há sinais de que, antes mesmo do ataque, as forças russas aparentemente já estariam preparadas para um banho de sangue.

Supostas covas podem ser vistas no topo da imagem (Foto: Maxar Technologies/Reprodução Twitter)

As fontes falaram sobre uma imagem de satélite divulgada pela empresa de tecnologia espacial Maxar Technologies, tirada antes da explosão. Ela mostra alterações no solo que as autoridades ucranianas creem ser sepulturas recém-cavadas dentro do complexo prisional.

Cerca de 15 a 20 dessas supostas sepulturas foram visualizadas no lado sul do complexo entre 18 e 21 de julho, com cerca de 6 a 7 pés de largura e 10 a 16 pés de comprimento.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que pelas Convenções de Genebra possui mandato para inspecionar condições em que os prisioneiros de guerra são mantidos, solicitou permissão ao Kremlin para entrar na prisão no dia da explosão. O pedido foi negado.

“Até agora, não tivemos acesso aos prisioneiros de guerra afetados pelo ataque nem temos garantias de segurança para realizar esta visita”, disse a Cruz Vermelha em comunicado na quarta-feira (3). A organização ainda relatou que sequer as ofertas para doar suprimentos como remédios e equipamentos de proteção tiveram resposta.

Sem apresentar provas, o Ministério da Defesa da Rússia acusa o exército ucraniano pela explosão. Para matar as próprias tropas, segundo o órgão governamental russo, um armamento ocidental enviado por parceiros teria sido usado: o lança-foguetes Himars, de fabricação americana.

Analistas militares dizem que isso é improvável, embora impossível de descartar, dadas as poucas informações disponíveis. Segundo eles, os foguetes geralmente deixam uma cratera, mas nenhuma fica evidente nas imagens divulgadas pelos serviços de notícias do Kremlin. Pelo fato de as paredes do quartel e boa parte do interior estarem intactas, além de não haver danos aparentes em um prédio adjacente, o cenário parece inconsistente com a forte onda de choque verificada em outros ataques do Himars.

Nenhum guarda russo foi morto ou ferido na explosão, que pareceu deixar outras estruturas próximas intactas.

Contrariando as acusações do Kremlin, investigadores ucranianos levantaram a hipótese de que um artefato explosivo teria sido detonado dentro do quartel. Na quarta-feira, a agência de inteligência militar da Ucrânia divulgou um comunicado alegando que os soldados detidos na prisão foram torturados. Há a especulação de que as forças russas teriam matado os prisioneiros para encobrir evidências da violência no cárcere.

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