Kremlin mantém silêncio e fortalece especulação sobre a morte de general russo

Valery Gerasimov não aparece em público desde janeiro, e boatos nas redes sociais sugerem que morreu em um ataque de Kiev

A última vez em que o general Valery Gerasimov, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia, apareceu em público foi no dia 29 de dezembro de 2023. Uma semana depois, passou a circular na rede social X, antigo Twitter, o boato de que ele teria morrido em um ataque da Ucrânia contra Sebastopol, na Crimeia, em 5 de janeiro deste ano. Desde então, Moscou não parece se esforçar para desmentir tal alegação, dando mais força às especulações. As informações são da revista Newsweek.

A questão mereceu atenção até de personalidades ocidentais, entre elas o coronel reformado do Exército dos EUA Jonathan Sweet. Em coluna para o jornal Kyiv Post, publicada na semana passada, ele diz que o silêncio de Moscou é “interessante” e que a falta de esclarecimentos por parte do Kremlin sobre o atual paradeiro de Gerasimov é “estranha”.

Ministro da Defesa Sergei Shoigu (esquerda) e o chefe do Estado-Maior Valery Gerasimov (Foto: Facebook)

O militar norte-americano traça um paralelo com o caso do almirante Viktor Sokolov, que Kiev alega ter matado em setembro de 2023. Porém, um dia depois da suposta morte, surgiram na TV russa imagens do oficial em uma reunião com o ministro da Defesa Sergei Shoigu, estratégia de Moscou para desmentir a baixa que a Ucrânia insiste em afirmar. No caso de Gerasimov, ao contrário, o Kremlin segue calado.

“O silêncio contínuo do Kremlin é potencialmente revelador. Putin está preocupado com o fato de Kiev estar atacando ativamente o seu alto comando?”, questiona Sweet no artigo, feito em coautoria com o economista britânico Mark Toth. “Faria sentido para a Ucrânia atacar Gerasimov se a oportunidade se apresentasse. Um ataque bem-sucedido poderia muito bem ser aquela peça única, semelhante ao Jenga, necessária para ganhar impulso e alavancar sua renovada contraofensiva terrestre.”

Analistas, porém, dizem não acreditar na morte de Gerasimov. E lembram que as ausências públicas dele são comuns, como ocorreu logo após o fracassado motim do Wagner Group em junho de 2023. Naquela oportunidade, o general também foi alvo de especulações, mas não sobre sua morte, e sim sobre uma possível demissão ordenada pelo presidente Vladimir Putin. Era apenas um boato.

Oficiais mortos na Ucrânia

Como sugerem Sweet e Toth no artigo, porém, oficiais russos são realmente um alvo preferencial de Kiev em seus ataques, muitos deles realizados graças a informações fornecidas pela inteligência. Em alguns casos, Moscou inclusive confirma a baixa, como o fez recentemente após a morte do coronel Vadim Nailyovich Ismagilov, também na Crimeia.

Desde os primeiros meses de conflito, Moscou vem sofrendo perdas devastadoras entre seus oficiais de média e baixa patentes, segundo relatório divulgado em maio de 2022 pelo Ministério da Defesa do Reino Unido. Um problema para as tropas do país, afetadas pela falta de comandantes experientes e confiáveis​.

Na opinião de Sweet, a eventual perda de Gerasimov seria bastante sentida pelas Forças Armadas russas. Ele elogia o desempenho do general em momento delicados, como ao conter o ímpeto ucraniano na atual contraofensiva. Embora não tenha conquistado vitórias expressivas, ele foi capaz de impor certo grau de desânimo ao Ocidente, que passou a questionar o fornecimento de ajuda militar à Ucrânia.

“Embora Gerasimov não tenha conseguido encontrar um caminho para a vitória, a sua doutrina teve certo grau de sucesso”, diz o coronel reformado, que cita ainda o suposto apoio russo ao ataque do Hamas contra Israel, outro fator que contribuiu para enfraquecer o apoio dos aliados ocidentais às forças de Kiev na guerra.

Como Rússia e Ucrânia não divulgam números oficiais de baixas, parte da campanha de desinformação dos dois países para influenciar a opinião pública, os balanços extraoficiais são a única fonte de dados. Nesse sentido, um dos mais confiáveis é a investigação conduzida em parceria pelo site Mediazona e a rede britânica BBC.

Os investigadores conseguiram confirmar 42.284 soldados russos mortos, dados contabilizados até o dia 19 de janeiro. Entre eles, sete generais, 336 coronéis e três capitães. Os números são obtidos a partir de informações publicamente disponíveis, como documentos oficiais, manifestações de familiares em redes sociais e publicações da imprensa regional.

Tags: