Legislativo da Rússia debate lei que perdoaria crimes de presos dispostos a lutar na guerra

São frequentes os relatos de que o governo recruta presidiários para reforçar as tropas russas, e a proposta formalizaria esse sistema

Nos últimos meses, têm se acumulado os relatos provenientes da Rússia de que tanto o governo local quando o Wagner Group, uma organização paramilitar aliada do Kremlin, recrutam presidiários para reforçar as tropas russas na guerra em curso na Ucrânia. Na quinta-feira (13), a senadora Olga Kovitidi confirmou que o Legislativo do país debate a criação de uma lei que formalizaria o perdão a criminosos dispostos a ir à guerra. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

A senadora se manifestou sobre a questão em seu canal no Telegram. Ela afirmou que a intenção é dispensar do cumprimento da pena o condenado que “demonstre coragem e heroísmo no cumprimento do dever militar, atitude conscienciosa no cumprimento das obrigações do serviço militar e com isso comprove a sua correção”.

Segundo ela, a lei se destinaria a perdoar criminosos acusados de crimes de pequena e média gravidade, embora não tenha especificado quais delitos se enquadram nessas categorias. Porém, afirmou que não seriam perdoados os cidadãos acusados de “desacreditar o uso das forças armadas“, crime previsto em uma lei de março que visa a silenciar as críticas à guerra e ao governo russo.

A medida é uma forma de compensar as baixas acumuladas por Moscou na Ucrânia. O Kremlin não divulga dados oficiais, mas Washington, em 8 de agosto, apresentou uma estimativa sugerindo que entre 70 mil e 80 mil soldados russos foram mortos ou feridos. Alguns dias antes, em 20 de julho, William Burns, diretor da CIA (Agência Central de Inteligência), afirmou que 15 mil soldados russos haviam morrido na guerra até então.

Soldados do exército da Rússia: presos na mira das forças armadas (Foto: reprodução/Facebook)
Criminosos recrutados

Foi o jornal Fontanka quem primeiro revelou os esforços do Wagner Group para recrutar novos membros em presídios russos. A reportagem citava o caso de uma mãe que tentava encontrar o filho, que cumpria pena de dois anos por roubo de carro quando desapareceu da prisão. Mais tarde, ele foi localizado em Luhansk, uma cidade no leste da Ucrânia então sob o controle da Rússia.

A ONG de direitos humanos Gulagu.net, que monitora o sistema carcerário do país, reforçou a denúncia. Vladimir Osechkin, chefe da entidade, citou a presença de Evgeny Prigozhin, aliado do presidente russo Vladimir Putin e tido como principal financiador do Wagner Group, em algumas colônias penais, dizendo que os principais locais de recrutamento são as regiões de São Petesburgo, Tver, Ryazan, Smolensk, Rostov, Voronezh e Lipetsk.

Um detento que teria presenciado o recrutamento afirmou que condenados por homicídio premeditado e roubo são especialmente bem-vindos, nas palavras do recrutador. Já presos condenados por estupro, tráfico de drogas ou terrorismo são proibidos de se juntar ao Wagner Group.

Em setembro, um vídeo compartilhado através do Telegram pela equipe do oposicionista russo Alexei Navalny mostrou um indivíduo supostamente recrutando presos. Em troca, eles recebiam a promessa de liberdade, com os crimes perdoados pelo governo.

No vídeo, o homem fala a um grande grupo de presos, todos com uniformes escuros. Ele se apresenta como membro da organização paramilitar Wagner Group e explica as condições que devem ser atendidas para o recrutamento. O contrato é para seis meses de serviços no campo de batalhas. Entre os avisos, ele diz que desertores serão fuzilados. O sujeito mostrado nas imagens se parece fisicamente com Prigozhin.

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