Milhares de russos protestam em Praga contra a guerra na Ucrânia

Polícia local estima aproximadamente três mil pessoas na marcha, repleta de bandeiras da Ucrânia e de cartazes contra Putin

Milhares de russos realizaram um protesto pacífico na cidade de Praga, capital da República Tcheca, no sábado (26). Eles portavam bandeiras e faixas nas cores amarela e azul, em referência à Ucrânia, bem como bandeiras listradas em azul e branco, que se tornaram símbolo de protesto contra a guerra desencadeada pela invasão das tropas da Rússia. As informações são da agência Reuters.

De acordo com a polícia local, aproximadamente três mil pessoas participaram da marcha, que teve início na Praça da Paz (Náměstí Míru, em tcheco) e seguiu até o centro da cidade. Os manifestantes gritavam “no to war” (não à guerra), em inglês, e muitos exibiam cartazes com fotos do presidente russo Vladimir Putin, algumas delas acompanhadas de palavras como “killer (assassino).

“Somos contra Putin”, disse Alexander Sibrimov, um estudante de 19 anos que participou do protesto com seu pai. “Nós não concordamos com a política dele. Esta é uma maneira de mostrar ao mundo que as coisas que acontecem na Ucrânia não estão certas”.

A comunidade russa é a quarta maior da República Tcheca, com cerca de 45 mil imigrantes. Por sua vez, a comunidade ucraniana é a maior, com cerca de 200 mil pessoas antes do início da guerra. Segundo o governo tcheco, outras 300 mil pessoas provenientes da Ucrânia ingressaram no país desde o início do conflito.

“Este é um ato para mostrar à República Tcheca e ao povo tcheco que os russos são contra Putin”, disse o organizador do protesto, Anton Litvin.

“Só porque somos russos não significa que somos automaticamente a favor da guerra. Somos contra a guerra“, disse o manifestante Oleg Golopyatov, um ex-soldado que vive em Praga há 15 anos.

Protesto pacífico em Praga contra a guerra na Ucrânia (Foto: reprodução/Twitter)
Repressão doméstica

Muitos dos presentes no evento em Praga afirmaram que o protesto era uma forma de expor também a opinião dos russos que vivem em seu próprio país, mas não podem se manifestar devido à repressão do governo. De acordo com a ONG OVD-Info, que monitora a perseguição política na Rússia, mais de 15 mil pessoas já foram presas por protestar contra a guerra em território russo.

A censura e a repressão aos oposicionistas na Rússia são bem anteriores à guerra, mas aumentaram desde que o exército russo atacou a Ucrânia. No início de fevereiro, o Poder Legislativo do país aprovou um projeto de lei que criminaliza a distribuição do que o governo vier a considerar “notícias falsas” sobre operações militares russas.

De acordo com o texto legal, passa a ser proibido publicar conteúdo “contra o uso de tropas russas para proteger os interesses da Rússia” ou “para desacreditar tal uso”, o que prevê uma pena de até três anos de prisão. A mesma punição se aplica àqueles que venham a pedir sanções à Rússia.

Dois anos de prisão

Nesta segunda-feira (28), um tribunal distrital de Tverskoy, em Moscou, condenou Anastasia Levashova, participante de um protesto antiguerra no dia 24 de fevereiro, na capital russa, a dois anos de prisão em uma colônia penal. Ela foi acusada de atirar um coquetel molotov em direção a agentes de polícia russos durante a manifestação, segundo a OVD-Info.

Os mortos de Putin

Em 1991, Vladimir Putin deixava de ser um espião da KGB, o serviço secreto russo que chegara ao fim com o colapso da União Soviética, em dezembro daquele ano. A partir dali, a ascensão do ex-agente secreto foi rápida como um míssil hipersônico. No final daquela década, ele já figurava no primeiro escalão político do país, ostentando os poderes de primeiro-ministro durante o governo Boris Yeltsin.

Em dezembro de 1999, Yeltsin renunciou, e Putin assumiu como presidente interino. Um importante conflito em curso naquela época foi marcado pelo pulso firme do novo mandatário, característica que logo chamou a atenção da opinião pública, que enxergou naquela figura um líder disposto a recolocar sob as ordens de Moscou os rebeldes chechenos. A reedição da guerra da Chechênia foi uma ação interpretada por muitos como um ressurgimento do poderio do Estado russo.

De lá para cá, o chefe do Kremlin consolidou o poder e fortaleceu o papel da Rússia no cenário mundial, meta atingida à base de violência e autoritarismo. Isso inclui perseguição a opositores políticos. Inclusive com suspeitas de envenenamento, censura e repressão à imprensa e a ativistas contrários ao regime. Além de mortes, muitas mortes. Nessa conta entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, uma invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes nos quais o líder russo esteve envolvido diretamente ou é forte suspeito de participação, todos ocorridos nas mais de duas décadas desde que foi elevado ao posto de autocrata. São dezenas de milhares de pessoas que perderam a vida em função de ações associadas a Putin, um número que aumentará bastante ao longo da guerra que ele provocou na Ucrânia. Relembre os casos.

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