Moldávia fecha fornecimento de gás com a Polônia em meio a disputas com a Rússia

Novo acordo comercial visa à diversificação no fornecimento de energia dentro de um dos países mais pobres da Europa, que vive sob influência russa

Diante da crise de gás que assola a Europa, a Moldávia recorreu a um abastecedor de fora da Rússia pela primeira vez, após não chegar a um acordo de renovação de fornecimento com Moscou. A nova parceira da ex-república soviética é a Polônia, o que gerou ironias por parte do Kremlin devido ao custo. As informações são da rede U.S. News.

A primeira remessa veio nesta terça-feira (26), quando a Moldávia recebeu um milhão de metros cúbicos de gás de Varsóvia. O novo acordo comercial é uma ação que visa à diversificação no fornecimento de energia dentro de um dos países mais pobres da Europa, onde seus 3,5 milhões de habitantes vivem sob forte influência russa.

Estatal russa Gazprom exige que Moldávia quite suas dívidas para renovar contrato de fornecimento (Foto: Gazprom/Reprodução Twitter)

A presidente da Moldávia, Maia Sandu, anunciou em sua conta no Twitter na quarta-feira (27) que a Comissão Europeia prometeu 60 milhões de euros (cerca de US$ 70 milhões) destinados a auxiliar o país em meio ao período de recessão do combustível natural. No tweet, ela endereçou um agradecimento à presidente da Comissão, Ursula von de Leyen.

O gás natural que abastecia a Moldávia era proveniente da Rússia até setembro, acordo que foi quebrado quando as tratativas para renovação com a estatal russa Gazprom afundaram.

A Gazprom estabeleceu no fim de semana que, para continuar a enviar gás para Moldávia, exigiria que o país quitasse suas dívidas, que somam 610 milhões de euros (US$ 709 milhões). A empresa russa ainda anunciou que, no caso de o pagamento não ser feito até dezembro, cortaria o fornecimento.

O contrato havia sido prorrogado por um mês ao preço mais alto de US$ 790 por metro cúbico, enquanto a estatal de energia da Moldávia, Energocom, procurava no mercado um fornecedor alternativo de gás. No momento, as autoridades moldavas seguem as negociações com a gigante do gás russo.

Insatisfeito com os altos custos, o vice-primeiro-ministro da Moldávia, Andrei Spinu, declarou no domingo (24) que as “condições financeiras e não financeiras da Gazprom não são do interesse dos cidadãos moldavos”.

Já o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ironizou a notícia de que a Moldávia havia optado pelo fornecimento polonês, observando que esses carregamentos seriam mais caros do que o gás russo.

Disputa política

A disputa do gás entre as nações, na opinião de observadores internacionais, poderia ser interpretada com uma tentativa russa de estender seus tentáculos sobre a Moldávia, depois que um partido pró-União Europeia obteve uma vitória esmagadora nas eleições parlamentares de 11 de julho. Peskov nega que questões políticas tenham relação com o assunto.

“Não há questões políticas aqui e não pode haver nenhuma”, disse o porta-voz do Kremlin em uma teleconferência com a imprensa na quarta-feira. E acrescentou: “Há uma demanda de gás, há uma oferta comercial junto com uma oferta de desconto e o problema do endividamento acumulado. Tudo isso é de caráter puramente comercial e não há politização aqui”.

Em setembro, Yuriy Vitrenko, CEO da Naftogaz, maior empresa de petróleo e gás da Ucrânia, acusou a Gazprom de utilizar o gás natural como uma arma geopolítica.

Tida como uma das nações mais carentes do continente europeu, nos últimos anos, a situação no país se agravou com a pandemia de Covid-19. A ex-república soviética ainda enfrentou escândalos recentes de corrupção. Num deles, em 2014, aproximadamente US$ 1 bilhão desapareceram do sistema de três bancos nacionais, caso que até hoje não foi totalmente esclarecido.

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