Mulher acusada de matar blogueiro pró-guerra recebe condenação histórica na Rússia

Morte de Vladlen Tatarsky rendeu a Darya Trepova a maior pena imposta a uma mulher na Rússia moderna, 27 anos de prisão

A Justiça de São Petesburgo, na Rússia, condenou a 27 anos de prisão Darya Trepova, acusada de assassinar o blogueiro pró-guerra russo Maxim Fomin, que adotava o pseudônimo Vladlen Tatarsky e tinha mais de meio milhão de seguidores em seu canal no aplicativo de mensagens Telegram. As informações são do jornal The Moscow Times.

Tatarsky, que morreu no dia 2 de abril de 2023, era um proeminente blogueiro militar que publicamente apoiava os esforços de guerra de Moscou, embora tenha frequentemente questionado a estratégia adotada pelas Forças Armadas conforme a guerra se estendia sem uma perspectiva de vitória russa.

Antes de se tornar blogueiro, ele se juntou a rebeldes separatistas e lutou na linha de frente na região de Donbass em 2014. Em setembro de 2022, ganhou destaque depois de participar de uma cerimônia no Kremlin que marcou a anexação ilegal de quatro regiões ucranianas, já com a guerra em andamento.

Vladlen Tatarsky tinha 560 mil seguidores em seu canal no Telegram (Foto: Facebook/Reprodução)

Tatarsky foi morto quando se reunia em um café às margens do rio Neva com membros de um grupo pró-guerra chamado Cyber ​​Front Z. Então, uma mulher que havia se aproximado dele nas semanas anteriores e participava do evento o presenteou com uma caixa contendo um busto dourado do blogueiro. O objeto, porém, continha um explosivo escondido que foi detonado pouco depois.

Além da morte do propagandista pró-Kremlin, a explosão causou ferimentos em pelo menos 32 pessoas, dez delas em estado grave, segundo informou na oportunidade a agência estatal de notícias RIA Novosti, citando como fonte o Ministério da Saúde da Rússia.

Presa pouco depois do ataque, Trepova foi acusada de terrorismo, tráfico ilegal de dispositivos explosivos e falsificação ilegal de documentos. De acordo com o site Mediazona, a sentença imposta a ela, de 27 anos, é a maior contra um mulher na Rússia moderna. Também foi imposta uma multa de 600 mil rublos russos (R$ 33,3 mil).

A lei russa sugere prisão perpétua para crimes relacionados ao terrorismo, mas esse tipo de pena não é aplicada às mulheres, cujas sentenças máximas habitualmente não ultrapassam 20 anos de prisão. Devido à gravidade do caso, a promotoria havia pedido uma pena de 28 anos.

Em sua defesa, Trepova alegou não saber do explosivo e que foi informada somente sobre uma escuta inserida no busto, que lhe foi entregue por um homem identificado como Gestalt. Também incriminou o jornalista Roman Popkov, atualmente baseado na Ucrânia e que contesta a guerra iniciada pela invasão russa em fevereiro de 2022.

“Sinto muita dor e vergonha por minha credulidade e minha ingenuidade terem levado a consequências tão catastróficas. Eu não queria machucar ninguém”, disse ela ao tribunal no início desta semana, segundo a agência Reuters. “Sinto uma dor e uma vergonha especiais por um ato terrorista ter sido cometido pelas minhas próprias mãos.”

Antes do incidente, Trepova era estudante de medicina e não estava no radar das autoridades russas. O primeiro problema com a Justiça veio depois de iniciada a guerra, quando foi detida durante um protesto no centro de São Petesburgo ao lado do marido dela, Dmitry Rylov.

Planejamento de Kiev

O Comitê Nacional Antiterrorista da Rússia, que coordena as operações de contraterrorismo, insiste em afirmar que o atentado foi “planejado pelos serviços especiais ucranianos”. O órgão inclusive disse que Darya era uma “apoiadora ativa” do proeminente líder da oposição russa preso Alexei Navalny, cujas denúncias de corrupção no governo o levaram a ser classificado como “extremista.”

A explosão que matou Tatarsky foi o segundo atentado contra uma figura pró-guerra em solo russo desde o início da invasão à Ucrânia. Em setembro de 2022, a Rússia responsabilizou os serviços especiais da Ucrânia pela morte de Darya Dugina, filha do filósofo ultranacionalista russo Alexander Dugin, um aliado do presidente Vladimir Putin. A jornalista, de 29 anos, morreu após seu carro explodir nos arredores de Moscou. 

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