Navalny foi transferido sem aviso prévio para um novo presídio, diz canal ligado ao Kremlin

Principal rival de Putin faltou a uma audiência judicial e desde a semana passada não mantém contato com seus advogados

Familiares, advogados e aliados de Alexey Navalny, principal adversário doméstico do presidente russo Vladimir Putin, estão desde a semana passada sem notícias a respeito dele. Embora o silêncio continue, um canal de Telegram ligado ao Kremlin sugeriu que o oposicionista, preso desde 2021, foi transferido sem prévio aviso para um novo presídio. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

De acordo com o canal Baza, que alega ter fontes no governo russo, Navalny foi levado a um presídio próximo a Moscou como parte das investigações ligadas a um caso de vandalismo que teria sido aberto contra ele. Até então ele cumpria 19 anos de reclusão na colônia penal número 6, na região de Vladimir, a cerca de 230 quilômetros da capital russa.

Durante o período em que esteve sumido, Navalny não apareceu sequer para participar de uma audiência judicial que seria realizada por videoconferência. A situação colocou seus apoiadores em alerta, embora o presídio onde ele cumpria pena tenha alegado que a ausência estaria ligada apenas à falta de energia elétrica na instituição.

O opositor ao Kremlin, Alexei Navalny, conversa com um de seus advogados antes de ser levado à prisão em março de 2021 (Foto: Reprodução/Twitter/Alexei Navalny)

Para os aliados do rival de Putin, porém, o temor era o de que o governo estivesse escondendo um problema agravado de saúde. Segundo eles, a saúde de Navalny já estava debilitada nos últimos meses, em função do que alegam ser um tratamento desumano por parte das autoridades prisionais.

Reações externas

O desaparecimento temporário levou a manifestações de governos e organizações independentes. Leo Docherty, parlamentar britânico, usou a rede social X, antigo Twitter, para dizer que “o Reino Unido está profundamente preocupado com o desaparecimento de Alexei Navalny de uma prisão russa e acompanha de perto a situação.”

Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE), usou o mesmo canal para se manifestar. “Notícias altamente preocupantes de Navalny desaparecido há sete dias”, disse ele pelo X na terça-feira (12). “A liderança política da Rússia é responsável por sua segurança e saúde na prisão, pelo que serão responsabilizados. A UE reitera o seu apelo por sua libertação imediata e incondicional do encarceramento por motivação política.”

Já a ONG Anistia Internacional classificou o político como “prisioneiro de consciência” e lembrou o histórico de abusos por parte do governo. “Como se não bastassem tentativas de envenenamento, prisão e condições de detenção desumanas, Alexei Navalny pode agora ter sido sujeito a um desaparecimento forçado. Na sua determinação de suprimir os seus críticos, o Kremlin não irá parar perante nada”, afirmou Denis Krivosheev, diretor adjunto para a Europa Oriental e Ásia Central.

Transferências sigilosas

De acordo com a agência Associated Press (AP), transferências de presos são habitualmente um processo sigiloso na Rússia, o que ajudaria a explicar a falta de informações a respeito de Navalny. Familiares e advogados costumam ser informados do novo paradeiro somente após a conclusão do processo de transferência.

A RFE, por sua vez, alega que uma mudança de presídio estava nos planos desde que Navalny foi julgado e condenado por extremismo, tendo sua pena ampliada para 19 anos de prisão. Por se tratar de um crime mais grave, havia a expectativa de que fosse levado a uma instalação mais severa, de “regime especial”.

Também chama atenção o fato de que o sumiço ocorre em meio à campanha presidencial de Putin, que na semana passada confirmou a intenção de concorrer ao quinto mandato como chefe de Estado, segundo reportou o jornal The Guardian no dia 8 de dezembro.

“Acho que isso foi feito deliberadamente para isolar Alexei durante esse período de tempo, para que ele não possa influenciar todas essas coisas de forma alguma, porque todos entendem – e Putin, é claro, entende – que Alexei é seu principal rival, mesmo apesar do fato de ele não estar na votação”, disse a porta-voz do político, Kira Yarmysh, de acordo com a AP.

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